quarta-feira, 19 de julho de 2017

Santo Elias: Profeta e Inspirador do Carmelo

Festa de Santo Elias: 20 de Julho


O profeta Elias aparece nas Sagradas Escrituras como um homem de fogo, completamente abrasado pelo amor de Deus. Homem de silêncio e da contemplação. Quando aparece em público é para falar de Deus. A Bíblia conta dele as maiores maravilhas e faz os mais belos elogios: pela sua oração Deus negou a chuva à terra durante mais de três anos, e quando de novo rezou no Monte Carmelo pelo do povo, Deus enviou abundantemente a chuva. Fugindo do terrível rei Acab e escondido numa gruta, o Senhor ordenou a um corvo que durante muitos dias levasse pão a Elias. Na sua fuga ia o profeta esfomeado. Era o tempo da seca em que Deus não abençoava nem os homens nem a terra com a chuva. Foi pois neste período que Elias abençoou uma viúva pedindo ao Senhor que, enquanto durasse a seca, não lhe faltasse nem a farinha nem o azeite para o seu sustento e do seu filho, em reconhecimento pela hospitalidade desta família pobre que socorreu o faminto profeta de Deus. E, mais tarde, tendo morrido o único filho desta viúva, Elias ressuscitou o menino. 



No monte Carmelo, fez Elias descer fogo sobre o sacrifício, mostrando assim que o deus Baal e os seus profeta eram falsos. Novamente se viu forçado a fugir a Acab e à sua mulher Jezabel. Faminto e desalentado no deserto para fortalecer e alimentar Elias com o pão e a água para o acompanhar durante quarenta dias e quarenta noites até ao monte de Deus. Uma vez aqui, manifestou-se-lhe Deus fazendo fustigar a terra por um vento impetuoso e por um tremendo terramoto. Deus apenas esteve presente numa brisa suave que refrescou o rosto de Elias. 


Após a manifestação no monte de Deus, Elias predisse a morte do rei Acab e do seu filho Ocozias, ambos desagradáveis ao senhor, e da rainha Jezabel, pagã e má. 

Sagrou reis e profetas e elegeu como seu sucessor, Eliseu, a quem deixou o seu manto e o seu espírito como herança, quando foi elevado ao céu num carro de fogo puxado por cavalos de fogo. 


Pelo seu amor ao silencio e à contemplação, pela fortaleza do seu espírito de profeta e pela ligação à montanha do Carmelo, desde muito cedo os carmelitas escolheram Elias como o seu inspirador espiritual, tal como haviam escolhido Maria, prefigurado na nuvenzinha que Elias vira no Carmelo, como Mãe e Irmã da Ordem por eles fundada. 

Viver em presença

Senhor, Deus dos nossos pais na fé, que concedestes ao profeta Elias viver sempre na vossa presença, inflamado pelo zelo da Vossa glória, concedei-nos que procuremos sempre o vosso rosto e que sejamos no mundo testemunhas do vosso amor.

Retrato bíblico


É impossível  descrever  em poucas   palavras  a personalidade e obra deste grande Profeta.


Lendo as poucas páginas bíblicas que nos falam dele: 1 Rs, cap. 17-19,21, e 2 Rs 1-2, podemos tentar descobrir suas características principais. Eis aqui algumas:
 
O homem diante de Deus: aparece com freqüência a expressão "o senhor a quem sirvo" ou "perante o qual estou". Elias não compartilha com ninguém seu culto e quer que o povo faça o mesmo.

Levado pelo Espírito: vede a resposta tão saborosa de Abdias em 1 Rs 18, 12. Daí procede a força da alma de Elias e de sua liberdade interior.

Sua fé sem divisões: quando do sacrifício do Carmelo(1 Rs 18), tenta forçar o povo a escolher  entre o Deus vivo, pessoal, que intervém na história, e as forças naturais divinizadas, os baais. Como nós, Elias crê sem ver; porque Deus pede, anuncia a chuva..., mas sem  vê-la  cair.  (1 Rs 18,41 s)

Sua  intimidade com Deus: Sua visão de Deus  (1 Rs 19),  como a de Moisés(Ex 33, 18s), é o modelo da vida mística: é tudo o mais que se concede ao homem ver. Porém, Elias continua sendo um homem como nós, desanimado, medroso (19, Is). O versículo 19,12 deve traduzir-se: "Ouviu-se o ruído de um silêncio: "Deus não está nas forças da natureza divinizadas, apenas está. Deus oculto. Em sua oração - tal como Moisés - Elias não cai em efusões místicas, apenas fala a Deus sobre sua missão.

Solidariedade com os  pobres:  diante do rei e dos poderosos, defende o pobre(1 Rs 21).

Seu universalismo: como crê em Deus sem divisões e se deixa conduzir pelo Espírito, é livre para tratar com os pagãos(1 Rs 17); mas também pede à mulher pagã uma fé incondicional(17,13).

O relato popular de 2 Rs 1,  contribuirá, infelizmente, para fazer de Elias uma personagem justiceira que pede o fogo do céu contra os pecadores.

A ascensão de Elias(2 Rs 1): como não se conhecia seu túmulo, chegou-se a pensar com certeza que tinha sido levado para junto de Deus. Lucas se inspirará neste texto para seu relato da ascensão de Jesus(Enoque 1); Eliseu, que vê Elias em sua ascensão, receberá seu espírito para continuar sua missão,  como os discípulos receberão o Espírito de Jesus por tê-lo visto elevar-se.

Retrato feito pelos homens

Limitamo-nos ao que nos pintam dois célebres carmelitas:

1) O ilustre historiador Juan Bta Lezana(+1659) escreveu este magnífico epitáfio: 
"Elogio para alcançar a porta do paraíso terreno":
Aqui vive, ó mortal, aquele celeste zelador da honra divina, Elias é o duplo espírito, perfeito na pureza, rico em virtudes, paupérrimo em bens terrenos, grande amigo de Deus, inimigo do diabo, amável com os bons, terrível para com os ímpios, nascido antes de Cristo, conversou com Cristo, reservado após Cristo contra o Anticristo; Patriarca exímio. Profeta celebérrimo. Sacerdote grande. Monge, Pai dos monges, sempre casto, Fênix singular.
De Cristo, futuro apóstolo. Mártir, Precursor, Capitão, valente defensor, arauto da verdade, ardentemente religioso, maduro sem desalento, ancião sem velhice, mortal sem morrer, nutrido sem alimento, de uma longevidade sem achaques e - coisa admirável! - de uma vida santíssima que não se há de extinguir até a consumação dos séculos.

Quem flagelou os tiranos, deu morte aos sacrílegos, fechou com suas palavras as nuvens e tornou a abri-las, ungiu Reis e instituiu Profetas defensores; pelos anjos foi anunciado seu nascimento, alimentado em Carit, saudado em Horeb, de onde, em meio a fragorosa tempestade e comoção dos montes, cobrindo-se com seu manto o rosto, viu o quanto era talentoso para Deus, o qual se lhe manifestou no suave zéfiro..."

2) O venerável mariólogo Arnoldo Bostio(+1499) o chamou:

"Varão Evangélico antes do Evangelho, Apostólico antes do tempo dos Apóstolos, depreciador do mundo e de todas as coisas perecíveis, apaixonado seguidor do eterno, primeiro Virgem, Monge e Eremita, resplendor de costumes, regra de virtudes, arauto da Virgem sagrada. Que com a instituição da virginal castidade antecedeu por muito tempo o Cordeiro sem mancha onde quer que tivesse de ir..."

Elias e o Carmelo

Um grupo de cruzados chegados à Palestina em meados do século XII, vendo a maravilhosa topografia do Monte Carmelo, tão propício à contemplação, decidiram permanecer ali e se entregarem sem reservas a imitar a vida do profeta do Fogo, tal como a descreviam os livros dos reis, a base da tradição monástica. O lugar os ajudava a "fabricar o mel dulcíssimo da contemplação".

Suposto o vínculo entre Elias e o Carmelo, entre Elias e a vida religiosa, fixado pelos Padres Gregos e Latinos, não é de se estranhar que aqueles a quem já Tiago de Vitry tinha designado como "imitadores do santo varão e solitário Elias profeta", no Monte Carmelo..., próximo à fonte chamada de Elias, na Rubrica Prima das Constituições afirmam sua descendência dos Padres, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, que desde o tempo de Elias e de Eliseu tinham habitado o Monte Carmelo "para a contemplação das coisas celestiais."

Apesar disto, os carmelitas nunca se chamaram elianos, pois tomaram o nome, como tantas outras Ordens, do Fundador, ou mesmo do lugar onde nasceram.

Elias será para aqueles cruzados que se reúnem no Monte Carmelo, a regra viva, que se proporão imitar. Para eles, este será o pai que lhes infundirá seu espírito Carmelitanum Dux et Pater.

Para estes primeiros carmelitas, a coisa foi fácil: desejavam imitar aquele homem extraordinário, tal como o protótipo do monaquismo.

Assim de início é a origem do Patriarcado eliano sobre o Carmelo.

Hoje, a assim chamada "Questão eliana" sobre a sucessão hereditária ou entroncamento dos carmelitas de hoje com o Profeta Elias, que vive 900 anos antes de Cristo, é uma questão conciliada e, portanto, assim admitida: Elias é o Pai Espiritual ou o Inspirador do Carmelo. Assim escreveu o P. R. Garcia Villoslada, S.J":

" Mas devemos dizer não sem fundamento, chamam seu Pai a Elias, porque os fundadores e depois todos os carmelitas olharam sempre aquele Profeta como modelo e exemplo, e inspirados nele, modelaram suas regras e constituições. Moralmente, pois, influiu o Profeta Elias na Ordem Carmelitana quase tanto quanto Santo Agostinho nos diversos institutos que levam seu nome, e se gloriam em tê-lo como Pai."

Elias, Pai espiritual do Carmelo



"Elias, apesar de não ter sido quem deu uma Regra escrita, porém; foi um exemplo e o modelo da santa vida das carmelitas". Assim escreveu o célebre humanista beneditino, o Abade João Tritemis(+1516).


A esta afirmação de um estranho à Ordem basta citar um fato: entre as estátuas dos fundadores das Ordens Religiosas que aparecem na Basílica de São Pedro em Roma, está também a magnífica e impressionante do Profeta Elias, com a seguinte inscrição, escrita pelo mesmo Papa Benedito XIII, no dia 26.6.1725: "Universus Ordo Carmelitanum Fundatori suo Santo Eliae Prophetae erexit 1724. ( A Ordem inteira dos Carmelitas, a seu Santo Fundador, Elias, Profeta, erigiu-a no ano 1725").

O então Procurador Geral da Ordem, Eliseu Monsignani, cheio de alegria, enviou aos Provinciais esta comunicação: "Chegou o tempo em que ainda quando os carmelitas calem, as pedras e os mármores falarão e dirão que o profeta Elias é o Pai e Fundador dos carmelitas".


De onde tira essa paternidade eliana?

O historiador da primeira metade do século XIII, diz: "A exemplo e imitação do santo e solitário varão Elias profeta, muitos anacoretas se retiraram para o Monte Carmelo..."

Em virtude desta tradição e desta história do patriarcado eliano os carmelitas devem procurar ajustar sua vida à dele. Foi este o testamento que, segundo a tradição, deixou São Brocardo, Superior Geral do Carmelo, aos moradores daquela Santa Montanha antes de expirar: "Ajustar vossa vida à vida exemplar da Bem-aventurada Virgem Maria e de nosso fundador, o Santo Profeta Elias."

Ele há de ser para nós o espelho no qual diariamente devemos olhar, como fazia Santo Antônio. É o que afirma o Beato João Soreth (+1471) em sua Exposição da Regra: "Nós somos os Filhos dos Profetas, não segundo a carne, mas pela imitação de suas obras. O Redentor dizia dos judeus que se gloriavam de proceder de Abraão: "Fazer as obras de Abraão: "Assim hoje deve-se dizer aos carmelitas: "Fazei as obras de Elias".

Assim nos apresenta a Elias o livro mais importante da espiritualidade carmelitana depois da Regra, a Instituição, como exemplo a imitar.

Eis aqui um fato básico e indiscutível: a consciência moral eliana do carmelo, sua procedência eliana enquanto concepção contemplativa e apostólica da vida religiosa.

Isto afirmava o célebre Tomás Waldense, quando desejava que fosse para os carmelitas Nosso Pai Elias "uma fonte de vida espiritual, um ideal que incita à imitação e estimula ao céu pelo Deus dos exércitos, de modo que, a vida espiritual do Carmelo tenha nele, Elias, sua especificação e sua inspiração".


Sua espiritualidade e sua mensagem

No que precede, vai já implícita e explícita sua espiritualidade e sua mensagem para o homem de hoje, que não pode ser mais que atual.

Todo ele se resume em seu duplo espírito, que sempre arvora o Carmelo como fundamento de sua espiritualidade: este era seu lema, sem dupla vertente:

a)      Vida contemplativa, intimidade divina: "Vive o Senhor, em cuja presença eu vivo, eu estou"(1 Rs 17,1).

b)      Vida apostólica, zelo pela glória de Deus e a justiça: Abraso-me de zelo pela glória pelo Senhor, Deus dos exércitos"(1 Rs, 19,10).

 Elias Profeta é o CANTOR incansável do Deus vivo.

Se a este duplo Espírito se lhe acrescenta o amor terno e filial a MARIA - a que segundo a tradição lhe viera prefigurada na célebre Nuvenzinha(1 Rs 19,44) - já completa o CARISMA DO CARMELO.

Recordava-nos  o papa João Paulo II no dia 24-9-1983:

"Vosso carisma submerge suas raízes no Antigo Testamento e se centra em torno do Novo Testamento.  Foi um homem de Deus, Mestre testemunha da oração. Como filho do povo, é um exemplo a ser seguido por vós, de como tendes que vos preocupar com as necessidades do próximo. Ele quer dizer que vós deveis ser homens de Deus, testemunhas da transcendência divina, apóstolos da Divina economia".

Resumindo
  • que preguemos e vivamos o  Deus único e verdadeiro.
  • que façamos morrer os muitos ídolos que nos rodeiam.
  • que vivamos sempre na presença do Senhor.
  • que contemplemos  Maria e tratemos de imitá-la.

Sua oração


Deus Todo-Poderoso e eterno, que concedeste a teu Profeta Elias, nosso Pai, viver em tua presença e arder pelo zelo de tua glória, concede-nos buscar sempre teu rosto e ser no mundo testemunhas de teu amor. Amém.


Fonte:

Los Santos Carmelitas, P. Rafael María López-Melús
Tradução: Margarida Moura 

http://www.carmelitasbh.com/santidade-carmelita/elias

http://www.carmelitas.pt/site/santos/santos_ver.php?cod_santo=28




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