Lectio Divina
Domingo, 30 de junho de 2019
O difícil processo na formação dos discípulos.
Como nascer de novo.
Lucas 9,51-62
1. Oração de
abertura
Senhor Jesus, envie
o seu Espírito, para que Ele nos ajude a ler a Bíblia da mesma maneira com a
qual você leu para os discípulos no caminho para Emaús. Com a luz da Palavra,
escrita na Bíblia, Vós os ajudou a descobrir a presença de Deus nos dolorosos
eventos de sua condenação e morte. Assim, a cruz, que parecia ser o fim de toda
a esperança, parecia-lhes uma fonte de vida e ressurreição.
Cria em nós o
silêncio para escutar sua voz na Criação e na Escritura, nos acontecimentos e
nas pessoas, especialmente nos pobres e naqueles que sofrem. A Vossa palavra
guiar-nos-á para que nós também, como os discípulos de Emaús, possamos sentir a
força da vossa ressurreição e testemunhar aos outros que Vós estais vivos no
meio de nós como fonte de fraternidade, de justiça e de paz. Pedimos a Vós, Jesus,
Filho de Maria, que nos revelou ao Pai e enviou o seu Espírito. Amém.
2. Leitura
a) Chave de
leitura:
No contexto do
Evangelho de Lucas, o texto deste domingo está no início da nova fase das
atividades de Jesus. Conflitos frequentes de mentalidade com as pessoas e as com
as autoridades religiosas (Lc 4:28; 5, 21.30; 6,2.7; 7,19.23.33-34.39)
confirmou Jesus ao longo do caminho como o Messias Servo, fornecido pela Isaías
(Is 50, 4-9; 53, 12) e assumido por Ele desde o início de sua atividade
apostólica (Lc 4,18). A partir daí, Jesus começa a proclamar sua paixão e morte
(Lc 9,22.43-44) e decide ir a Jerusalém (Lc 09:51). Esta mudança de curso
produziu uma crise nos discípulos (Mc 8,31 -33). Eles não entendem e têm medo
(Lc 9,45), porque neles a velha mentalidade sobre o glorioso Messias continua a
dominar. Lucas descreve vários episódios em que a velha mentalidade dos
discípulos emerge: desejo de ser o maior (Lc 9,46-48); vontade de controlar o
nome de Jesus (Lc 9,49-50); reação violenta de Tiago e João à rejeição dos
samaritanos para acolher Jesus (Lc 9,51-55). Lucas também indica como Jesus se
esforça para fazer com que seus discípulos entendam a nova concepção de sua
missão. O texto deste domingo (Lc 9,51-62) descreve alguns exemplos de como
Jesus estava fazendo com seus discípulos.
b) Uma divisão do
texto para ajudar na sua leitura:
- Lucas 9,51-52: Jesus
decide ir a Jerusalém
- Lucas 9,52b-53: Uma
aldeia na Samaria não oferece boas-vindas
- Lucas 9,54: Reação
de João e Tiago contra os não-samaritanos
- Lucas 9,55-56: Reação
de Jesus à violência de Tiago e João
- Lucas 9,57-58:
Primeira proposta para seguir Jesus
- Lucas 9,59-60:
Segunda proposta para seguir Jesus
- Lucas 9,61-62:
Terceira proposta para seguir Jesus
c) O texto:
51 Quando ia se
completando o tempo para ser elevado ao céu, Jesus tomou a firme decisão de
partir para Jerusalém. 52 Enviou então mensageiros à sua frente, que se puseram
a caminho e entraram num povoado de samaritanos, para lhe preparar hospedagem.
53 Mas os samaritanos não o queriam receber, porque mostrava estar indo para
Jerusalém. 54 Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: “Senhor, queres
que mandemos descer fogo do céu, para que os destrua?”. 55 Ele, porém, voltou-se
e os repreendeu. 56 E partiram para outro povoado. Exigências do seguimento.
57 Enquanto estavam
a caminho, alguém disse a Jesus: “Eu te seguirei aonde quer que tu vás”. 58 Jesus
respondeu: “As raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos; mas o Filho
do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. 59 Então disse a outro: “Segue-me.”
Este respondeu: “Permite-me primeiro ir enterrar meu pai”. 60 Jesus respondeu:
“Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai e anuncia o Reino de
Deus”.
61 Um outro ainda lhe
disse: “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos de minha
casa”. 62 Jesus, porém, respondeu-lhe: “Quem põe a mão no arado e olha para
trás, não está apto para o Reino de Deus.”
3. Um momento de
silêncio orante para que a Palavra de Deus possa entrar em nós e iluminar nossa
vida.
4. Algumas
perguntas para nos ajudar na meditação e oração.
a) Qual é o sentido
do texto que você mais gostou e que mais te impressionou?
b) Que defeitos e
limitações dos discípulos são descobertos no texto?
c) Qual é a
pedagogia de Jesus e o que Ele usa para corrigir esses defeitos?
d) Quais são os
fatos do Antigo Testamento que são lembrados nos textos?
e) Com qual dessas
três vocações (v. 57-62) você se identifica? Por quê?
f) Qual é o defeito
dos discípulos de Jesus mais presentes em nós, seus discípulos hoje?
5. Uma chave de
leitura ir muito mais fundo no assunto.
a) Contexto
histórico do nosso texto:
O contexto histórico
do Evangelho de Lucas tem sempre dois aspectos: o contexto de trinta anos de
Jesus, na Palestina e o contexto das comunidades cristãs nos anos oitenta, na
Grécia, para o qual Lucas escreveu seu Evangelho.
No tempo de Jesus na Palestina. Não foi fácil para Jesus treinar seus discípulos. Não é porque uma
pessoa vai a Jesus ou vive em uma comunidade que já é santa e perfeita. A maior
dificuldade vem de "o fermento dos fariseus e de Herodes" (Mc 8:15),
ou seja, a ideologia dominante da época, promovida pela religião oficial
(fariseus) e governo (Herodes). Combater esse fermento fazia parte da formação
que Jesus deu aos seus discípulos. Porque o modo de pensar dos grandes tinha
raízes profundas e renascia, sempre de novo, nas cabeças dos pequeninos, dos
discípulos. O texto que meditamos neste domingo nos dá uma ideia de como Jesus
enfrentou esse problema.
Na época de Lucas, nas comunidades da Grécia. Para Lucas, era importante ajudar os cristãos a não se deixarem
levar pelo "fermento" do Império Romano e da religião pagã. O mesmo
vale para hoje. O "fermento" do sistema neoliberal, disseminado pela
mídia, propaga a mentalidade do consumidor, contrariando os valores do
Evangelho. Não é fácil para a pessoa descobrir que eles estão trapaceando:
"Não será um logro o que tenho em minhas mãos?" (Is 44,20).
b) Comentário do
texto:
Lucas 9,51-52: Jesus decide ir a Jerusalém
"51 Quando ia
se completando o tempo para ser elevado ao céu”, esta declaração indica que
Lucas lê a vida de Jesus à luz dos profetas. Ele quer deixar claro para os leitores
que Jesus é o Messias que os profetas anunciaram, e será cumprido. O próprio
modo de falar aparece no Evangelho de João: "Jesus, sabendo que estava
chegando a sua hora neste mundo para o Pai" (Jo 3: 1). Jesus,
obediente ao Pai, "propositalmente se dirige a Jerusalém".
Lucas 9,52b-53: Uma aldeia na Samaria não oferece hospitalidade.
A hospitalidade era
uma das bases da vida comunitária. Era difícil para as pessoas passar a noite
com alguém de fora, sem aceitá-lo (Gn 18: 1-5; 19: 1-3; Jz 19: 15-21). Mas no
tempo de Jesus a rivalidade entre judeus e samaritanos levou o povo de Samaria
a não receber os judeus em peregrinação a Jerusalém e isso forçou os judeus a
não atravessarem a Samaria, quando estavam indo para Jerusalém. Eles preferiram
percorrer a parte do vale do Jordão. Jesus não concorda com essa discriminação
e passa por Samaria. Então, ele sofre as consequências da discriminação e não
recebe hospitalidade.
Lucas 9,54: A violenta reação de Tiago e João à rejeição do
samaritano
Inspirado pelo
exemplo do profeta Elias, Tiago e João querem que o fogo desça para exterminar
os habitantes daquela aldeia. (2Rs 1,10,12; 1 Re 18,38). Eles acham que pelo
simples fato de estarem com Jesus, todos deveriam recebê-los. Eles têm a velha
mentalidade de ser pessoas privilegiadas. Eles acham que têm Deus ao seu lado
para defendê-los.
Lucas 9,55-56: reação de Jesus à violência de Santiago e Juan
"Jesus se virou
e repreendeu-os." Algumas Bíblias baseadas em manuscritos antigos também
dizem: "Vós não sabeis de que Espírito Sois. O Filho do homem não veio
para tirar a vida dos homens, mas para salvá-la”. O fato de alguém estar com
Jesus não dá a ninguém o direito de pensar que ele é superior aos outros ou que
os outros devem lhe pagar honras. O "Espírito" de Jesus pergunta o
contrário: perdoa setenta vezes sete (Mt 18,22). Jesus escolhe perdoar o ladrão
que implorou na cruz (Lc 23,43).
Lucas 9,57-58: Primeira proposta para seguir Jesus
Um diz: "Vou
segui-lo aonde quer que você vá". A resposta de Jesus é muito clara e sem
críticas. Não deixa dúvidas: o discípulo que quer seguir Jesus deve imprimir em
sua mente e coração o seguinte: Jesus não tem nada, nem mesmo uma pedra para
reclinar sua cabeça. As raposas e os pássaros carregam-no nessa vantagem,
porque pelo menos eles têm tocas e ninhos.
Lucas 9, 59-60: Segunda proposta para seguir Jesus
Jesus disse a outro:
"Segue-me!" Esta mesma palavra foi dirigida aos primeiros discípulos:
"Segue-me" (Mc 1,17.20; 2,14). A reação da pessoa chamada é positiva.
Ela está disposta a seguir a Jesus. Ele só pede permissão para enterrar seu
pai. A resposta de Jesus é severa: "Deixa que os mortos enterrem seus
mortos; você vai anunciar o Reino de Deus ". Provavelmente é um provérbio
popular usado para dizer que é preciso ser radical nas decisões que são
tomadas. Aquele que está disposto a seguir a Jesus deve deixar tudo para trás.
É como se ele morresse de tudo que possuía e ressuscitasse para outra vida.
Lucas 9,61-62: Terceira proposta para seguir Jesus
Um terceiro caso:
"Vou segui-lo, mas deixe-me dizer adeus aos da minha casa". Mais uma
vez, a resposta de Jesus é severa e radical: "Ninguém que põe a mão no
arado e olha para trás está apto para o Reino de Deus". Jesus é mais
exigente do que o profeta Elias quando ele chamou Eliseu para ser seu discípulo
(1 Re 19,19-21). O Novo Testamento supera o Antigo Testamento na demanda e
prática do amor.
c) Aprofundando: Jesus Formador:
O processo de
formação dos discípulos era exigente, lento e doloroso. Porque não é fácil dar
à luz uma nova experiência de Deus, uma nova visão da vida e do próximo. É como
nascer de novo! (Jo 5-9). A velha mentalidade renasce e reaparece na vida das
pessoas, famílias e comunidades. Jesus não poupa esforços para treinar seus
discípulos. Eu me dediquei a isso por muito tempo. Ele nem sempre entendia
isso. Judas o traiu, Pedro negou e, na hora do teste, todos o abandonaram.
Apenas as mulheres e João permaneceram perto dele, ao lado da cruz. Mas o
Espírito Santo que Jesus enviou após a ressurreição completou a operação
iniciada por Ele (Jo 14, 26, 16, 13). Além do que já observamos no texto deste
domingo (Lc 9,51-62), Lucas fala de muitos outros casos para indicar como Jesus
fez para treinar os discípulos e ajudá-los a superar a mentalidade enganosa da
época.
Em Lucas 9, 46-48,
os discípulos discutem entre si para descobrir quem é o maior. Aqui, a
mentalidade competitiva e a luta pelo poder, característica da sociedade do
Império Romano, já estava se infiltrando na pequena comunidade de Jesus, que
está apenas começando. Jesus ordena ter uma mentalidade contrária. Pegue uma
criança, coloque-a ao lado dele e identifique-se com ele dizendo: "Aquele
que recebe um pequeno como esse me acolhe, e quem me recebe, recebe o
Pai!" Os discípulos discutem quem foi o maior, e Jesus manda olhar e
acolher o menor. E este é o ponto sobre o qual Jesus insiste mais e sobre o
qual deu mais testemunho: "Não vim para ser servido, mas para servir"
(Mc 10,45).
Em Lucas 9, 49-50,
uma pessoa que não era do grupo de discípulos, usou o nome de Jesus para
expulsar os demônios. João viu e proibiu: "Nós lhe proibimos porque não
anda conosco". João impede uma boa ação. Ele achava que era o dono de
Jesus e queria proibir que outros usassem o nome de Jesus para fazer o bem. Ele
queria uma comunidade fechada em si mesma. Aqui a velha mentalidade de
"Pessoas escolhidas, pessoas separadas! Jesus responde: "Não o
proibais, pois quem não é contra vós, está a vosso favor”. O objetivo da
formação não pode levar a um sentimento de privilégio e posse, mas deve levar a
uma atitude de serviço. Para Jesus, o que importa não é se a pessoa é parte da
comunidade ou não, mas se faz ou não o bem que a comunidade deve fazer.
Aqui estão outros casos de como Jesus educa seus discípulos. Uma
maneira de dar forma humana à experiência que Ele mesmo teve de Deus Pai. Você
pode completar a lista:
- Compromete-os com a missão e no seu retorno faz a revisão com eles
(Mc 6,7; Lc 9,1-2; 10,1-12,17-20)
- Corrige quando estão errados (Lc 9,46-48; Mc 10,13-15)
- Ajuda-os a discernir (Mc 9,28-29)
- Pergunta-lhes quando não entendem ou demoram a entender (Mc 4,13;
8,14-21)
- Prepara-os para a luta (Mt 10,17s)
- Refletir com eles sobre os problemas do momento (Lc 13, 1-5)
- Ordenou a observar a realidade (Mc 8,27-29; Jo 4,35; Mt 16,1-3)
- Coloca-os diante das necessidades das pessoas (Jn 6.5)
- Ensina que as necessidades das pessoas estão sobre qualquer
prescrição ritual (Mt 12.7.12)
- Os defende quando criticado por oponentes (Mc 2,19, 7,5-13)
- Ele cuida do seu descanso e da sua alimentação (Mc 6,31; Jo 21,9)
- Passa momentos sozinhos com eles para poder instruí-los (Mc 4,34;
7,1; 9,30-31; 10,10; 13,3)
- Insiste na vigilância e ensina a rezar (Lc 11,1-13, Mt 6,5-15)
6. Salmo 19 (18),
8-15
A fonte de formação da lei de Deus
8 A lei do Senhor é
perfeita, conforto para a alma; o testemunho do Senhor é verdadeiro, torna
sábios os pequenos. 9 As ordens do Senhor são justas, alegram o coração; os
mandamentos do Senhor são retos, iluminam os olhos. 10 O temor do Senhor é
puro, dura para sempre; os juízos do Senhor são fiéis e justos, 11 mais preciosos
que o ouro, que muito ouro fino, mais doces que o mel e que o licor de um favo.
12 Também teu servo neles se instrui, para quem os observa é grande o proveito,
13 As inadvertências quem as descobre? Perdoa-me as culpas que não vejo. 14 Também
do orgulho salva teu servo para que não me domine; então serei irrepreensível,
e imune do grande pecado. 15 Digna-te aceitar as palavras de minha boca,
cheguem à tua presença os pensamentos do meu coração. Senhor, meu rochedo e meu
libertador.
7. Oração Final
Senhor Jesus, nós te
damos graça por tua Palavra que nos fez ver melhor a vontade do Pai. Deixe seu
Espírito iluminar nossas ações e nos dê forças para seguir o que a Sua Palavra
nos fez ver. Faça-nos, como Maria, sua mãe, não apenas ouvir, mas também pôr em
prática a Palavra. Você que vive e reina com o Pai na unidade do Espírito Santo
para todo o sempre. Amém.
Fonte: Carmelitas Bolívia
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