DOMINGO XXII DO TEMPO
COMUM
Ago 31, 2019 | Ano C
MISTAGOGIA DA PALAVRA
Liturgia deste
domingo fala-nos da humildade. É difícil para nós admitir que a humildade é a
atitude própria do homem perante Deus, atitude que não o diminui, mas que o
coloca no seu lugar. É, além disso, o estilo mais social e que melhor
possibilita a relação do ser humano com os seus semelhantes. Para entender
isto, para ser humilde e andar na verdade da nossa própria condição, precisamos
de ser pobres de espírito diante de Deus, ou seja, vazios de nós mesmos, para
poder ser chamados por Ele, sabendo que tudo na nossa vida é graça e dom,
efeito da misericórdia e do amor que Deus nos tem.
A 1ª leitura é do
Livro de Ben-Sirá. Basta uma rápida verificação, para nos darmos conta de que
tudo aquilo que somos é um presente de Deus. D’Ele provém a vida, a beleza, a
força, a inteligência, as qualidades que temos. Nada é nosso, de nada nos
podemos vangloriar. É ridículo quem exibe os dons de Deus como se fossem seus.
É insensato quem ostenta as qualidades que recebeu para se confrontar e para se
impor às outras pessoas. Os dons de Deus foram-nos dados para que deles façamos
dom aos irmãos.
A 2ª leitura é da
Epístola aos Hebreus. Os Hebreus que se tinham convertido ao cristianismo
continuavam a ter uma certa nostalgia da religião de seus pais. O autor da
Carta procura iluminá-los, fazendo um confronto entre a religião antiga,
representada pelo monte Sinai, e a religião cristã, que tem como símbolo a nova
Jerusalém. Hoje os cristãos sabem que podem dirigir-se directamente ao Pai, sem
nenhuma reserva e sem medo. O único mediador é Cristo, que não procura servos,
mas amigos.
No Evangelho, segundo
S. Lucas, o Reino de Deus aparece insinuado, uma vez mais, num banquete em que
Cristo participa pessoalmente. Jesus propõe duas atitudes para aceder ao reino:
a humildade e o amor desinteressado ao próximo, em especial ao mais
desamparado. O episódio evangélico tem dois momentos: a) Parábola dos lugares
na mesa. Trata-se de uma atitude religiosa que tem a ver com o lugar no
banquete do Reino de Deus. Na escala dos lugares que Jesus estabelece na
comunidade cristã, o primeiro é o último, aquele que serve. b) A escolha dos
convidados. Tem de evitar o cálculo interesseiro, diz o Senhor; porque a lei do
Reino, que é dom gratuito de Deus ao homem, é o amor sem factura, o dar a fundo
perdido.
A PALAVRA DO
EVANGELHO
Diante da Palavra
Vem Espírito Santo,
infunde no íntimo do nosso coração o desejo do que é humilde e verdadeiro em
Deus.
Evangelho segundo S.
Lucas 14,1.7-14
Naquele tempo, Jesus
entrou, num sábado, em casa de um dos principais fariseus para tomar uma
refeição. Todos O observavam. Ao notar como os convidados escolhiam os
primeiros lugares, Jesus disse-lhes esta parábola: «Quando fores convidado para
um banquete nupcial, não tomes o primeiro lugar. Pode acontecer que tenha sido convidado
alguém mais importante do que tu; então, aquele que vos convidou a ambos, terá
que te dizer: ‘Dá o lugar a este’; e ficarás depois envergonhado, se tiveres de
ocupar o último lugar. Por isso, quando fores convidado, vai sentar-te no
último lugar; e quando vier aquele que te convidou, dirá: ‘Amigo, sobe mais
para cima’; ficarás então honrado aos olhos dos outros convidados. Quem se
exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado». Jesus disse ainda a
quem O tinha convidado: «Quando ofereceres um almoço ou um jantar, não convides
os teus amigos nem os teus irmãos, nem os teus parentes nem os teus vizinhos
ricos, não seja que eles por sua vez te convidem e assim serás retribuído. Mas
quando ofereceres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os
cegos; e serás feliz por eles não terem com que retribuir-te: ser-te-á
retribuído na ressurreição dos justos.
Caros amigos e
amigas, o Evangelho de hoje convida a ser uma casa pobre, lugar de Verdade e o
Amor Eterno.
Interpelações da Palavra
Ao notar como os
convidados escolhiam os seus lugares, Jesus disse-lhes…
A humildade de me
deter diante dos lugares, das pessoas, dos costumes…sem julgar. Deter-me para
permitir o tempo de “notar”, de contemplar o Deus que se revela, antes de
julgar e, sobretudo, antes de falar. Tenho-me permitido esse tempo para
“notar”, ou sou rápido a sacar e disparar a arma do meu juízo e dos meus
julgamentos? Deus é sempre um Deus escondido. Só um olhar atento, paciente e
compassivo o encontrará. Em todos os lugares, sobretudo nos lugares mais
inesperados, do mundo em que vivemos e do meu próprio mundo interior, um
coração atento encontrará um rosto deste Deus, sempre surpreendente.
”Quando fores
convidado para um banquete nupcial, não tomes o primeiro lugar.”
A humildade de
aceitar não ser o melhor, o maior … Os lugares de Deus são diferentes dos
lugares do mundo. Em Deus cada um de nós tem um lugar, que é o seu, único,
insubstituível e intransmissível. Um lugar que mais ninguém pode ocupar e onde
sou a chamado a ser o que mais ninguém pode ser por mim…ser eu próprio. Em Deus
não há primeiros nem segundos, só há lugares e são todos sagrados. Que eu não
me ache “o que mais” seja o que for -o que mais pensa, sabe, faz…-, porque o
que mais importa é a verdade na entrega de amor que impregna aquilo em que me
dou. O amor não tem medida, nunca é demais e “jamais acabará” 1 Cor 14,8a.
“Mas quando
ofereceres um banquete, convida os pobres aleijados, os coxos e os cegos”
A humildade de amar
quem mais precisa e não quem eu acho que merece. O Amor de Deus é diferente do
amor do mundo. É um Amor humilde que brota de um coração misericordioso: que
não espera recompensa, reconhecimento ou gratidão; não tem preço nem está à
venda; “ tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Cor 13, 7). Quem
menos merece, aos meus olhos, pode ser precisamente quem mais precisa de amor
aos olhos de Deus. Os pobres, aleijados, coxos e cegos da minha realidade
concreta, podem ser aqueles que por um “passo mal dado” me são tão difíceis de
amar. Mas foi precisamente esse o caminho libertador de compaixão e perdão que
Jesus nos deixou, para que cada um o faça passos concretos dos seus dias. Cada
um de nós encerra uma história ferida, onde os “passos mal dados” têm as suas
raízes e que só o amor pode sarar.
Rezar a Palavra e
contemplar o Mistério
Senhor, procuro a
humildade. Procuro a verdade aos Teus olhos.
Só a humildade
prepara o íntimo do coração, para nele poder acolher e guardar a Tua palavra e
permitir que aí lance as Suas raízes e dê fruto.
Queria deixar aqui
aos Teus pés,
As velhas roupas,
apertadas e gastas,
para abraçar a
coragem do despojamento
e me lançar na
alegria e liberdade dos pobres filhos de Deus.
Senhor, faz-me muito
pobre em Ti.
Viver a Palavra
Esta semana, na minha
realidade concreta, detenho-me diante de uma situação ou de uma pessoa que me é
difícil. Procuro despojar-me de certezas, sentimentos, julgamentos, talvez eu
não saiba tudo… Peço a Deus a graça de um olhar novo e mais humilde, menos meu
e mais de Deus.
Fonte: Pastoral Litúrgica
Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares
Comunidade Santa Teresa de Jesus (Curitiba-PR)
Província Nossa Senhora do Carmo
FaceBook: OCDS
Província Nossa Senhora do Carmo
Nenhum comentário:
Postar um comentário