DOMINGO XXIII DO
TEMPO COMUM
Set 8, 2019 | Ano C
MISTAGOGIA DA PALAVRA
Onde está a
verdadeira sabedoria? A lógica da cruz não é a do mundo, e o homem nasce e
cresce assimilado à do mundo. Quando lhe é anunciada a “loucura da cruz”, é
normal, e até mesmo salutar, que hesite, que seja tomado por dúvidas e
perplexidades e que se sente a refletir sobre a escolha a fazer. O cristão não
aspira à dor, mas ao amor. Todavia, quando o amor é levado até ao extremo,
chega ao dom da vida. Por isso é que a cruz, de sinal de morte, se tornou
símbolo da vida.
A 1ª leitura é do
livro da Sabedoria. A sabedoria de que fala a Bíblia não deve ser identificada
com a erudição, o saber, a instrução recebida na escola. Para fazer escolhas
justas e ponderadas, é necessária a “sabedoria”, isto é, a luz que vem de Deus.
Não é fácil decidir, de forma livre e sábia, caminhar por caminhos direitos, se
Deus não enviar do alto a sua luz, se não comunicar a sua sabedoria.
A 2ª leitura é de S.
Paulo a Filemon. Um escravo foge do domínio do seu senhor e refugia-se junto de
S. Paulo, que estava na prisão. Uma vez convertido e baptizado, é enviado por
S. Paulo ao senhor, mas acompanhado de uma carta, ditada pelo coração, em que
pede a Filemon (o senhor), que, segundo as exigências evangélicas, receba o
escravo como irmão. Este espírito novo, evidenciado por esta maravilhosa carta,
foi preparando as transformações sociais que levaram à supressão da escravatura.
O Evangelho é segundo
S. Lucas. O que define especificamente o discípulo de Jesus? A opção
responsável e definitiva por Cristo e pelo seu Evangelho é o que especifica o
cristão, ou seja, o discípulo de Cristo, tornando-o diferente nos critérios e
nos comportamentos. Trata-se do que caracteriza e não da mera pertença sócio-religiosa à Igreja. Cristão e discípulo de Cristo são sinônimos. Os
conselhos evangélicos, as advertências e apelos de Jesus são para todos. Seguir
a Cristo como discípulo tem um preço. É o que hoje Jesus nos propõe: a entrega
total e a plena disponibilidade para Deus, pondo o valor do seguimento do Reino
de Deus acima de todo o afeto humano.
A PALAVRA DO
EVANGELHO
Evangelho Lc 14, 25-33
Naquele tempo, seguia
Jesus uma grande multidão. Jesus voltou-Se e disse-lhes: «Se alguém vem ter
comigo, e não Me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos, às
irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não toma a sua
cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo. Quem de vós, desejando
construir uma torre, não se senta primeiro a calcular a despesa, para ver se
tem com que terminá-la? Não suceda que, depois de assentar os alicerces, se
mostre incapaz de a concluir e todos os que olharem comecem a fazer troça, dizendo:
‘Esse homem começou a edificar, mas não foi capaz de concluir’. E qual é o rei
que parte para a guerra contra outro rei e não se senta primeiro a considerar
se é capaz de se opor, com dez mil soldados, àquele que vem contra ele com
vinte mil? Aliás, enquanto o outro ainda está longe, manda-lhe uma delegação a
pedir as condições de paz. Assim, quem de entre vós não renunciar a todos os
seus bens, não pode ser meu discípulo».
Caros amigos e
amigas, as palavras do Evangelho de hoje são perigosas e de extrema exigência.
Falam-nos da seriedade, da fé e do ser discípulo. O convite não é a escolha
entre a vida ou Jesus, entre a família ou Jesus, mas é a opção entre a vida com
Jesus ou a vida sem Ele.
Ser discípulo
Os números da
multidão nunca exaltaram o Nazareno. Em vez do aplauso, Jesus prefere a
totalidade do coração. As suas palavras são duras, quase para desencorajar quem
lhe segue. Ele não esconde as dificuldades, nem promete a lua. Ser cristão não
é um passeio florido. Não é uma questão de ornamento dominical ou alguma
devoção, mas é meter a fé dentro de tudo, da vida e afectos, atitudes e bens.
A proposta de Jesus
parece escandalosa e absurda! Mas será a fé desumana, um sacrifício sem
sentido? A lógica da cruz – que não é a lógica do sofrimento – é a lógica de
quem confia, se dá e pode amar até ao ponto de dar a própria vida. Um amor que
vai além de um afecto, além da família, além de qualquer alegria ou satisfação
dos haveres. Pois, “Deus é Deus porque nada possui” (Barsanufio).
Mesmo se alguém se afasta,
leva consigo uma forte interrogação, afasta-se com o coração intrigado. Ser
cristão é uma escolha, não uma obrigação. É o acolhimento de uma proposta.
Os amores conduzem a
vida
O mais importante nem
é a renúncia, mas a conquista. No Evangelho qualquer convite à renúncia é
sempre motivado por um mais, a multiplicação em cêntuplos, de videiras podadas
mas recheadas de cachos. Até a pobreza é para partilhar com os pobres: a renúncia
é sempre motivada por um dom e por um amor maior, para que nos tornemos naquilo
e naquele que amamos.
A vida avança pelos
amores e paixões que nos encantam, não pelas renúncias ou sacrifícios que
suportamos. Dizia Goethe que “aprende-se apenas aquilo que se ama”. Nós
tornamo-nos aquilo que contemplamos com o olhar do coração. O cristão segue o
amor de Cristo doado totalmente na cruz.
Amar é uma arte
A vida é muito mais
do que construir uma torre ou ir à guerra, onde os cálculos, projetos,
orçamentos, meios… são necessários. Na vida nem sempre se pensa assim. O perigo
é que podemos viver no campo onde está escondido o tesouro sem o saber e sem o
encontrar.
A proposta evangélica
não é o sofrimento. A cruz equivale a amar até ao fim. Seguir Jesus é conhecer
o único vocabulário do amor dado sem condições. O amor é sempre um trabalho,
uma canseira, uma ascese, um acontecimento de liberdade. Bem sabemos que todas
as coisas têm um preço e este é proporcional ao valor, à raridade, ao empenho e
à genialidade que é pedido para o realizar. A vida tem um valor incomensurável.
Não se vende nem se negoceia. Só se pode dar. E a fé, essa, não está em saldo!
Consuma-se! E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!
Viver a palavra
Vou cuidar de que o
Senhor seja a prioridade do meu coração.
Rezar a palavra
Senhor, que me
convidas a nada antepor ao amor por ti
faz que Te siga com
um coração unificado.
Senhor, que me
convidas a tomar cada dia a minha cruz
faz que Te siga com
um coração livre.
Senhor, que me
convidas a renunciar a todos os bens
faz que Te siga com
um coração pobre.
Fonte: Pastoral Litúrgica
Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares
Comunidade Santa Teresa de Jesus (Curitiba-PR)
Província Nossa Senhora do Carmo
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Santa Teresa de Jesus
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