quinta-feira, 12 de março de 2020

São José fundador e pai do Carmelo Descalço (Parte III)


b) Reflexão teológica

As palavras evangélicas sobre São José são poucas, mas são tão grandes, tão graves e tão densas de conteúdos laudatórios ao Santo, que basta o discurso da razão, refletindo sobre estes dados, para tirar deles, sem forçá-los, sua grandeza singular e única. Destes dados se tem elaborado ao longo dos séculos o que podemos chamar de teologia de São José, que reduzimos essencialmente a estes pontos:

·         José esposo de Maria

É, sem dúvida, a primeira verdade que se destaca nos relatos evangélicos. São José é desposado com Maria. Entre eles existe um verdadeiro matrimônio, com todos seus direitos e obrigações, ainda que selado pela virgindade de ambos. Um matrimônio verdadeiro, ordenado de uma maneira especial para receber e educar dentro dele o fruto virginal do seio de Maria, Jesus. Por isso é uma união que se forja e se realiza por impulso do Espírito Santo, que desempenha um papel especial na sua realização: a mãe de Jesus tinha que ser uma virgem, mas uma virgem desposada com um homem justo, José; Jesus tinha que nascer em uma união matrimonial, mas de uma maneira virginal. Um matrimônio verdadeiro, unido legitimamente pelo vínculo de um amor casto com exclusão de toda obra da carne. Um matrimônio para o qual somente José foi julgado digno porque somente ele foi predestinado e preparado pelo Senhor para tal dever. Um matrimônio para salvaguardar a fama de Maria em sua maternidade divina e para introduzir o Filho de Deus no mundo pelas causas normais pelas quais entram os demais homens, com a exclusão da geração carnal.

·         José, pai de Jesus

A partir da singularidade deste matrimônio há de se entender e compreender a paternidade de José sobre Jesus. A José, Deus pede o consentimento ao matrimônio com Maria, tendo em vista receber Jesus neste mundo, de introduzi-lo na curso da história da salvação nesta fase terrena: “José, não temas receber Maria em tua casa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo”; e José a recebe em sua casa e com ela, o fruto nascido de seu ventre. E por isso será chamado pai de Jesus. É a designação que sem mais acréscimos lhe dá o evangelho.

Já desde os primeiros autores que tratam deste tema encontramos este raciocínio para explicar que José é pai de Jesus e em que sentido: Maria por direito matrimonial pertence a José, é como o campo de José. José pelo voto de virgindade renuncia ao uso deste direito sobre Maria; em certo sentido, o cede ao Espírito Santo, que gera em Maria virginalmente a Jesus. Este, gerado e nascido do corpo de Maria, no campo de José, pertence-lhe como filho. Explica-se pela lei do levirato: São José estaria civilmente morto pelo voto de virgindade e o Espírito Santo teria lhe dado a prole; e também pelo princípio do direito de que o que nasce em um campo pertence ao proprietário do campo.

A paternidade sobre Jesus é a grandeza suprema de José, da qual derivam todos os outros privilégios e graças, dado que o mesmo matrimônio com Maria é divinamente ordenado para esta paternidade única no mundo.

Os teólogos, para desvendar a paternidade de José sobre Jesus e conferir um adjetivo apropriado e expressivo dessa realidade, falam de uma paternidade legal, putativa, adotiva, matrimonial, virginal, própria. Realmente é única. É uma paternidade na qual se dão todos os elementos da mesma, mas sublimados, menos o da geração carnal; e, além disso, todos eles ordenados por Deus exclusivamente para uma paternidade sobre Jesus. José é virginalmente e matrimonialmente pai de Jesus. Não somente não desmerece em nada a sua paternidade faltar-lhe a geração carnal, se não que, como escreve Santo Agostinho, é tanto mais firmemente pai, quanto mais castamente o é.

·         José vive a paternidade sobre Jesus

Deus que modela e forma um por um dos corações dos homens (Sal 32, 15), pôs no coração de José os mais elevados sentimentos de paternidade. O coração de José é modelado singularmente pela mão de Deus tendo em vista seu Filho, quando Este se encarne no mundo. Não há coração de pai que se possa comparar no amor pelos filhos ao de José por Jesus; o amor paternal de José excede toda consideração. Predestinado a ser pai singular de Jesus, Deus o dotou de um amor paternal único. Como disse um autor "se não foi verdadeiro pai natural de Deus, não foi porque lhe faltasse a capacidade e os dons requisitados para isso, mas porque Deus não fez eleição de pai na terra" (I. Coutiño).

Expressão de seu amor paternal é o comportamento de José para com Jesus em sua infância e juventude. Às cenas recordadas pelo evangelho, acrescentemos que José como pai educa Jesus em um sentido amplo, ensinando-lhe as orações que todo fiel israelita rezava diariamente e as que se dizia em comunidade no templo e na sinagoga, como o Shema, a ação de graças... orações que todo homem devia saber desde os doze anos.

Sem dúvida ensinou também aquelas passagens da Escritura mais destacadas, que se referiam à história da salvação do povo escolhido, os salmos mais usados, os ensinos dos profetas e dos sapienciais.

E como quem não ensina a seu filho um ofício, o educa para ladrão, São José ensinou a seu filho o ofício de carpinteiro. A vida de Jesus menino e adolescente está fortemente marcada pela educação que lhe deu São José.

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