segunda-feira, 16 de março de 2020

São José fundador e pai do Carmelo Descalço (Parte VII)


c) Formas expressivas de devoção e experiência de São José

Como da abundância do coração fala a boca, a abundância da devoção e experiência josefina da Santa são visíveis em uma série de manifestações externas. E não importa que estas alcancem cotas sobrenaturais muito altas; a altura destas experiências sobrenaturais não fizeram a Santa perder o contato com a terra e a realidade cotidiana. E assim vemos que, enquanto a experiência de São José se vive no mais profundo do espírito, no centro da alma, as formas devocionais para expressar a mesma são as mais simples e elementares, as mais tradicionais e comuns. Para ela, os meios ordinários de devoção daquele tempo continuavam sendo fontes de piedade, de amor, de agradecimento, e os meios de expressar sua religiosidade a seu pai e senhor São José.

·         Titulação de seus mosteiros

Para a Santa Madre, os conventos que funda, à imagem do primeiro, são casas de São José. Por isso procura que a maioria leve o nome e o título de São José. Dos dezessete pombais da Virgem, fundados por ela, onze estão sob o título de São José: Ávila (1562), Medina del Campo (1567), Malagón (1568), Toledo (1569), Salamanca (1570), Segóvia (1574), Beas de Segura (1575), Sevilha (1576), Caravaca (1576), Palência (1580), Burgos (1582). Com a particularidade que a partir da fundação de Beas, São José é associado engenhosamente a outros títulos.

·         Imagens de São José em suas fundações

Se nem todas as fundações de Madre Teresa levam o título de São José, não há nenhuma onde não haja uma imagem do Santo presidindo e amparando a comunidade. É mais uma manifestação de sua devoção e experiência josefina difundir por seus conventos as imagens de São José, a maioria das quais ainda se conservam.

É notável, a este respeito, a observação que levava consigo em todas suas fundações uma estátua de São José, que recebia o título de "São José do Patrocínio", e, quando o Pe. Pedro Fernández a nomeou Priora do convento da Encarnação em 1571, e ela soube da terrível negativa da maioria das monjas em recebê-la, levou consigo esta imagem e no dia da tomada de posse, após colocar a imagem da Virgem no assento prioral, a acomodou no assento subprioral; esta imagem logo falaria tudo o que as monjas faziam, sendo por isso chamada de Parlero, e de tanto falar ficou com a boca aberta milagrosamente.

Na fundação de Burgos, o médico Antônio Aguiar, amigo do Pe. Gracián, registra que, ao não encontrar uma imagem do Santo, reparava pela mão de um pintor um santo antigo para que representasse São José. Como não queria que faltasse por muito tempo a imagem de São José em nenhum de seus conventos, que são as casas de seu pai e senhor, recorda a Diego de Ortiz, fundador do convento de Toledo, "de não se descuidar tanto de pôr a meu senhor São José na porta da Igreja”.

·         Celebração das festas de São José

Uma das manifestações mais autênticas de verdadeira devoção a um santo é a celebração litúrgica de suas festas. A Santa não apenas celebrava a festa de São José; a solenizava. Diz ela mesma: "procurava fazer sua festa com toda a solenidade que podia" (V 6,7). Este costume de celebrar a festa de São José com toda solenidade, com música e sermão, com toques de sinos, fineza de flores e nuvens perfumadas de incenso e mirra - pois assim se celebrava a festa de São José nas Igrejas da Ordem, segundo o Beato João Batista Mantuano - a Santa iniciou na Encarnação e manteve nos anos que viveu naquele mosteiro, e retomou-as quando voltou como Priora, e a celebrava no convento em que estivesse na festa do Santo Patriarca. É um dos dados mais testificados nas Atas para sua Beatificação e Canonização.

Quando escreve as Constituições prescreve que "os domingos e dias de festa se cante Missa, Vésperas e Matinas. Nos primeiros dias da Páscoa e outros dias de solenidade poderão cantar Laudes, especialmente no dia do glorioso São José" (Const. n.2).

São eloquentes, a este respeito, os festejos religiosos de caráter mariano-josefino que organizava em solenidades litúrgicas, como o Natal, no qual dispunha a procissão com as imagens da Virgem e São José - de quem era devotíssima, como acrescenta Isabel Batista que descreve a cena, com este a pedir abrigo para a Virgem grávida.

·         O capítulo VI do Livro da Vida, panegírico de São José

O capítulo VI da Vida da Santa, o livro das misericórdias do Senhor para com ela, é um panegírico breve mas denso sobre São José. Vou me fixar unicamente em um ponto ou aspecto deste panegírico:

d) As almas de oração devem ser devotas de São José

"Em especial, as pessoas de oração sempre lhe deveriam ser afeiçoadas... Quem não tiver mestre que lhe ensine oração, tome este glorioso santo por mestre e não errará no caminho" (V 6,8).

Para a Santa, os que se dedicam à oração formam uma categoria especial na Igreja de Deus, são os servos do amor (V 11,1); a ela pertencem suas filhas, as carmelitas descalças. Para estas São José é um mestre consumado.

A oração mental, segundo Santa Teresa, é tratar de amizade, estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos que nos ama (V 8,5), ou seja, com Jesus humanado.

O caminho da oração deve nos levar a encontrar e viver em companhia de Jesus. Daí a exortação da Santa: “E que melhor que a do mesmo Mestre que ensinou a oração que ides rezar? Representai-vos o mesmo Senhor junto de vós e vede com que amor e humildade Ele vos está ensinando. E crede-me, enquanto puderdes, não estejais sem tão bom Amigo... Pensais que é pouco ter um tal Amigo a vosso lado?” (C 26,1)

A Santa, convencida pela própria experiência, que a oração é tanto mais autêntica e santificadora quando é um encontro mais íntimo com Jesus, um encontro no qual a alma "esteja falando e regalando-se com Ele" (V 13,11), exorta ardente e amorosamente a se ocupar "em ver que o Senhor o olha, e o acompanha, e que fale, e peça, e humilhe-se, e regale-se com Ele, e lembre-se que não merecia estar ali...”. Esta maneira teresiana de orar na companhia e intimidade com Jesus humanado traz muitos proveitos e deve ser desenvolvida em suas diversas etapas.

Se isso é a oração para Madre Teresa, compreende-se que proponha São José como Mestre insuperável neste caminho. A vida de São José, sua vocação, sua missão, sua predestinação, estão totalmente na perspectiva da companhia de Jesus e se concretizam em estar sempre ao seu lado, falando, regalando-se com Ele, pedindo-lhe, o servindo. Toda a razão de sua existência é a vida com Jesus e para Jesus. A vida de José tem sua razão de ser somente em Jesus: recebê-lo e acolhê-lo no seio de sua Mãe, pôr-lhe o nome, cuidar e velar por Ele, alimentá-lo, ensiná-lo, viver em sua companhia e intimidade. Quem poderá compreender a intimidade doce e suave, gozosa e dolorosa, que viveu com Jesus? Quem poderá vislumbrar os graus no trato de amizade que se desenvolveu entre eles e com Maria?

Se na oração, como trato de amizade com Cristo, é aspecto essencial escutar a palavra de Jesus, ver verdades, São José ouviu absorto muitas vezes as palavras de seu filho Jesus, que calavam fundo no coração. Se aos apóstolos, por serem seus amigos (Jo 15,15), Jesus revela seus segredos, que segredos e verdades não revelaria a seu pai São José? E como escutaria este as palavras, cheias de vida e calor, de Jesus! Com que docilidade as assimilaria, com que amor as recolheria e meditaria em seu coração! Que conversações se manteriam entre os dois!

Toda a vida de São José foi oração, porque foi uma vida em companhia de Jesus, de intimidade e familiaridade com Ele. Ninguém soube mais e melhor desta oração que ele, que por tanto tempo tratou com Jesus e Maria em uma comunhão e comunicação autêntica e única de amizade e amor.

Por isso no Carmelo teresiano São José sempre foi Mestre de oração. São incontáveis as almas que encontraram nele o mestre e guia de seu caminho oracional, e algumas chegaram a uma verdadeira experiência sobrenatural e mística dele, como a Santa Madre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário