b) Experiência
sobrenatural e mística
A longa experiência da
devoção a São José com o tempo amadurece e se transforma em uma experiência
sobrenatural, sem perder seu caráter habitual de experiência à nível de graça
ordinária, porém mais forte. Isso acontece quando a Santa começa a ter uma
maneira nova de experimentar as realidades sobrenaturais. Também a devoção a
São José fica tocada suave e fortemente por esses ventos místicos que adentram
sua alma. Nessa linha desenvolve-se poderosamente a devoção da Santa a São
José, e as experiências concretas dessa devoção mística vai aparecendo em
momentos específicos e especiais de sua vida.
A devoção a São José no
Carmelo teresiano vai essencialmente unida a Santa Teresa. É um dos legados
mais ricos e característicos que a Santa deixou a seus filhos. E o faz pela
força dessa experiência e como fruto maduro da mesma. Uma herança valiosíssima.
Ao experienciar São José como Fundador da Reforma, na sua obra de fundadora, o
associa essencialmente à mesma. Não se compreende o Carmelo teresiano sem São
José, sem a experiência josefina da Santa. As palavras do Pe. Gracián, o grande
confidente de Madre Teresa por tanto tempo, e seu superior por muitos anos, são
claras: "... e por essa causa, conforme escreve o doutor Ribera, pôs sobre
a portaria de todos os mosteiros que fundou Nossa Senhora e o glorioso São José;
e em todas as fundações levava consigo uma estátua deste glorioso santo, que
agora está em Ávila, chamando-o fundador desta Ordem. Os que professam esta
regra dos carmelitas descalços reconhecem como fundador desta reforma o
glorioso São José, com cuja devoção a fundou Madre Teresa, assim como toda a
Ordem do Carmelo reconhece por fundadora a sacratíssima Virgem Maria".
De fato, a fundação do
primeiro mosteiro realmente não se explica sem a presença e a ajuda de São
José. O primeiro convento do Carmelo Teresiano se funda em um ambiente banhado
pelo sobrenatural, tal como o entende a Santa, no qual tem um papel de primeira
relevância o glorioso São José. Como disse o Pe. Gracián, estendendo essa
importância capital do santo para todos os outros conventos: "da mesma
forma que o glorioso São José fez milagre na construção deste mosteiro (Ávila),
poderia contar de muitos outros, tanto de frades como de monjas, que parece
impossível tê-los erguidos, se este glorioso santo não tivesse posto as mãos
nestas empresas".
Assim um dia, após ter
comungado, ouve grandes promessas “de que não deixaria de se fazer o mosteiro,
que seria muito servido nele e que se chamasse São José, e que ele nos
guardaria de uma porta e Nossa Senhora da outra, e que Cristo andaria conosco”
(V 32,2). Metida já na edificação do mosteiro, encontra-se cercada por todos os
lados, sem dinheiro ou de onde o tirar, nem para a Breve, nem para nada. Nesta
situação sem saída vem sobrenaturalmente em seu socorro São José, a quem ela
muito se recomendava: "E o Senhor me proveu de tudo, por modos que
espantavam os que o souberam" (V 33,12). Chegaram pelas mãos de seu pai e
senhor São José, através de seu irmão Lorenzo, mais de duzentos ducados.
Por aqueles mesmos dias,
estando na Igreja dos dominicanos, recebe a graça mística da vestição de uma
roupa de muita brancura e claridade. Vestem-na Nossa Senhora, de grandíssima
formosura, que vê a seu lado direito, e seu pai São José, ao lado esquerdo,
dando a entender já estar limpa de seus pecados.
Neste ambiente cercado
pelo sobrenatural foi erigido oficialmente o mosteiro do senhor São José no dia
24 de agosto de 1562. A Santa Madre sente um grande contentamento por ter feito
o que o Senhor tinha mandado e por que fez outra igreja mais neste lugar,
dedicada a seu pai, o glorioso São José, que antes não havia (V 36,6). A
externalização desta forte experiência na fundação do primeiro mosteiro está na
escultura de São José, vestida com um chapéu e à mão a vara florida, sobre a
porta da igreja, e uma tela do Santo no altar maior.
A experiência sobrenatural
de São José na fundação do primeiro mosteiro é um ponto culminante na carreira
dessas experiências com seu pai e senhor São José, que inicia com a cura
milagrosa de sua gravíssima doença, e que marca um momento fundamental e
decisivo em suas relações com o Santo Patriarca, na qual o experiencia - “vê
claramente” - como pai e senhor que tudo pode em todas as necessidades. A
experiência josefina não diminui ao longo de toda a sua vida. Sua existência se
desenvolve sob o signo de São José. Isabel da Cruz, em seu depoimento para a
beatificação da Santa no Processo de Salamanca, a expressa nestes termos:
"Era particularmente devota de São José e ouvi dizer que ele apareceu
muitas vezes e andava a seu lado". Há muitas referências e momentos em sua
vida em que sente esta experiência de São José, além das já mencionadas. Basta
citar outras três.
Um dia enquanto comungava,
viu que o bendito São José, de um lado, e Lorenzo de Cepeda, seu irmão, de
outro, iluminavam o Santíssimo Sacramento. Assim conta seu sobrinho Francisco,
filho de Lorenzo. Petronila Batista fala de um arroubamento muito grande que
teve no dia do bem-aventurado São José, enquanto a Santa ouvia a missa na grade
do coro de São José de Ávila.
Não se pode ignorar, por
ser conhecido, o episódio da aparição de São José quando iam a caminho de Beas
de Segura, para uma nova fundação naquela cidade, conforme narra Ana de Jesus
(Lobera), testemunha do fato como uma das oito religiosas que acompanhavam a
Madre naquela fundação.
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