terça-feira, 17 de março de 2020

São José fundador e pai do Carmelo Descalço (Parte VIII)


V. PROJEÇÃO JOSEFINA APÓS SANTA TERESA

O que a Santa escreve sobre a sua pessoal e particular experiência josefina, tão simples e vitalmente exposta, tem uma finalidade: projetá-la nos demais, quer que todos sejam devotos de São José e se recomendem a ele. E o conseguiu plenamente. Não é possível ler as páginas em que a Santa descreve suas experiências josefinas e ficar indiferente. Santa Teresa, cujas palavras sobre São José cabem em muitas poucas páginas, se converteu em um apóstolo de primeira magnitude do Santo pela naturalidade, calor e amor com que as escreve, como também pelo realizado em sua obra fundacional. E isso não apenas para o Carmelo teresiano, mas para a Igreja universal. O Pe. Gracián, na sua obra Josefina, cita quase todos os trechos em que a Santa faz referência a São José. E, depois dele, a maioria dos autores carmelitas, quando se apresenta ocasião. Os pregadores do século XVII, em grande número, citam as palavras do capítulo VI do Livro da Vida, alinhando-as com Gerson e Isidoro de Isolanis. Santa Teresa entra assim na lista dos grandes propagadores da devoção a São José. Podemos aplicar a propósito o que a Santa diz que prometeu o Senhor a respeito da primeira casinha de São José, que "seria uma estrela que irradiaria de si grande resplendor" (V 32,11). São José de Ávila, casa de São José, acendeu no céu da Igreja muitas estrelas de devoção e amor ao Santo Patriarca, e segue e seguirá as iluminando.

Como disse um autor francês, Lucot: "Os Papas encontraram um assistente poderoso para a propagação do culto de nosso Santo na célebre Reformadora do Carmelo. Gerson fez muito por ele, Teresa fez mil vezes mais por si mesma, pelos religiosos de sua Reforma e pelas religiosas de seu Carmelo. São José é seu devedor, sobretudo, pela glória que possui na terra”.

·         No Carmelo teresiano

Que a fundação de São José foi um marcante sinal apostólico josefino para o próprio Carmelo é evidente. Nele se serviria muito a São José. Assim entenderam e interpretaram os autores carmelitas. O Pe. João da Anunciação, Geral da Congregação Espanhola, historiando a fundação de São José de Ávila, escreve: "pôs-se o Santíssimo Sacramento; dedicou-se a igreja a nosso pai São José, que por aquele princípio é Patrono e Protetor de nossa Reforma... O convento de São José de Ávila é o princípio e lar natal de todos os conventos da descalcez, assim como é da devoção josefina dos mesmos".

Tome-se como confirmação de que a devoção a São José penetrou na alma e na vida da Descalcez o fato de se intitular tantos conventos com o nome de São José, seguindo assim o exemplo da Santa Madre. Em 1699, havia no mundo 321 conventos de frades carmelitas descalços, sem contar os asilos. Destes, 73 levavam o título de São José. E havia 180 de monjas sujeitas à Ordem, e destes 57 estavam sob o título de São José.

Mais importantes que os conventos materiais com seus títulos são os conventos espirituais e vivos das almas. E estes respiram sob o signo de São José, que ocupou e segue ocupando um lugar de preferência neles. Tradições devocionais josefinas, introduzidas pela Santa Madre, ainda seguem sendo celebradas nos carmelos teresianos, como expressão de uma devoção genuína, como de outras que se foram introduzindo, inspiradas naquelas. Os carmelos teresianos, desde sua solidão, clausura e silêncio, são lugares de abrasado amor e devoção sincera a São José, que ateiam na Igreja poderosos raios dessa afetuosa devoção ao Santo, irradiando seus resplendores na comunidade eclesial. Seria interessante recolher as vivências josefinas que se registram nos carmelos da Madre Teresa, nos quais São José tem em cada carmelita uma verdadeira devota e propagandista, porque vivem autenticamente o carisma teresiano. Pode-se aplicar a elas particularmente estas palavras: "Se, como dizem os curiosos investigadores dos segredos da natureza, os filhos saem às mães, a ninguém parecerá paradoxal o que, confidentemente, vou dizer: que ser filho de Santa Teresa e devoto de São José, ser carmelita e defender e advogar a glória do santíssimo esposo da Virgem Santíssima, são conceitos sinônimos e qualidades até tal ponto simpáticas e mutuamente unidas, que não podem, nem devem se dar uma sem a outra” (Arnaldo de São Pedro e São Paulo).

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