sábado, 10 de agosto de 2019

Momento com Deus - Lectio Divina - 10/08/19


MISTAGOGIA DA PALAVRA

Precisamos de possuir alguns bens para viver; mas não são a fonte da vida nem está neles a chave e o segredo para ser pessoa. Somente quem ama e vive em solidariedade e abertura aos outros, dando-se a Deus e ao próximo, tem uma vida autêntica e, em última análise, é feliz porque entende a vida com sabedoria. O sem-sentido da vida aparece quando o homem se fecha a Deus e aos irmãos, pois, sem relação com os valores perenes que Deus, Cristo e o próximo representam, as coisas e os bens carecem de referência que lhes dá um valor que em si mesmos não possuem para a felicidade humana, como demonstra a experiência. O Evangelho, segundo S. Lucas, fala-nos da vigilância. Toda a comunidade cristã deve viver em permanente estado de alerta e vigilância, reagindo à tentação do comodismo, instalação e excessiva planificação da vida, num espírito de calculismo impróprio de filhos de Deus, mas sempre despertos para o serviço de Deus e dos irmãos.

A PALAVRA DO EVANGELHO
Diante da Palavra
Vem, Espírito Santo, renova a minha diligência no amor, para que nunca me canse de vigiar!

Evangelho segundo S. Lucas, 12, 32-48
«Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o reino. Vendei o que possuís e dai-o em esmola. Fazei bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável nos Céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração. Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que esperam o seu senhor ao voltar do casamento, para lhe abrirem logo a porta, quando chegar e bater. Felizes esses servos, que o senhor, ao chegar, encontrar vigilantes. Em verdade vos digo: cingir-se-á e mandará que se sentem à mesa e, passando diante deles, os servirá. Se vier à meia-noite ou de madrugada, felizes serão se assim os encontrar. Compreendei isto: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não o deixaria arrombar a sua casa. Estai vós também preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do homem». Disse Pedro a Jesus: «Senhor, é para nós que dizes esta parábola, ou também para todos os outros? ». O Senhor respondeu: «Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor estabelecerá à frente da sua casa, para dar devidamente a cada um à sua ração de trigo? Feliz o servo a quem o senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado. Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens. Mas se aquele servo disser consigo mesmo: ‘O meu senhor tarda em vir’, e começar a bater em servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo chegará no dia em que menos espera e a horas que ele não sabe; ele o expulsará e fará que tenha a sorte dos infiéis. O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou ou não cumpriu a sua vontade, levará muitas vergastadas. Aquele, porém, que, sem a conhecer, tenha feito ações que mereçam vergastadas, levará apenas algumas. A quem muito foi dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá! »

Caros amigos e amigas, em tempo de colheitas, o Senhor volta a questionar-nos sobre o destino que damos aos nossos “rendimentos”. Nesta parábola, em noite escura, Jesus deixa-nos o desafio da confiança… n’Ele! Interpelações da Palavra “Um tesouro inesgotável”.
 
Não temas, pequeno rebanho! Que palavras capazes de miracular todo o tédio e todo o cansaço! Que palavras capazes de nos restituírem a leveza frente ao peso de cada dia e a fortaleza perante a nossa fragilidade!  Pequeno.  Não temas ser pequeno porque Deus te ergue contra o seu rosto acariciando a tua singeleza. Preferes ser grande e ufanar-te na tua pseudograndeza que é apenas inchaço e rebenta à mínima intempérie? Para os ricos, cujas seguranças estão postas nos bens terrenos e no prestígio e poder humanos, talvez estas palavras de Jesus não passem de uma demagogia estéril, ou quando muito um floreado poético. Estes confiam antes nas maneiras hábeis de “conduzir” os bens mundanos aos seus depósitos. Só os pobres têm aquela margem de liberdade que lhes permite perscrutar a presença forte de Deus e viver da Fonte – inesgotável – da sua vida.

“Parábola noturna”
Jesus usa frequentemente parábolas cujo enredo se situa dentro da noite. Talvez para nos situar na nossa condição de precaridade que necessita da luz da sua presença. A noite simboliza uma situação de urgência e de risco, de ansiedade. Isto remete-nos para a necessidade de confiar. A não confiança em Deus é que nos leva a tentar controlar este mundo por medo dele. A confiança em Deus leva-nos a estar neste mundo na alegria de o receber com tudo o que tem de belo e a ter tempo de saborear como o Senhor é bom!

“Servos vigilantes”
Há uma vigilância que se prova no amor. O amor sempre vigia, sem necessitar de mandamentos ou recomendações, numa espontaneidade feliz. Não sejamos mais estas antenas calculistas que apreendem apenas o derivar da bonança, mas estes olhos devotados à poesia que Deus escreve no mundo, olhos e ouvidos que se procuram afinar na harmonia da criação. Não mais estas câmaras de vigilância, que controlam com uma curiosidade mesquinha, ou com uma manipulação interesseira a intimidade do irmão, mas mais mãos de mãe que sabem introduzir-se nas feridas sem as violar, com o poder do amor que cura e faz milagres, dentro da vida! A acumulação que nos fala Jesus é aquela de dar a vida.  Só um dar é ganhar.  A libertação dos depósitos íntimos permite-nos a disponibilidade para acolher o “Pão de cada dia” que Deus nunca se atrasa em nos conceder.

Rezar a Palavra
Senhor Jesus, meu chão e meu colo, minha coluna inabalável, 
Regozijo-me em Ti, em Ti quero colocar as delícias do meu sabor.
Dou-te graças pois a tua atenção me faz existir, me alimenta e me cobre de valor. 
Seduz o meu desejo para Ti porque és o único que me maximamente me valoriza.
Que a tua Palavra oriente a minha sabedoria e as minhas capacidades para a rentabilidade que nunca desvaloriza, mas se conserva até à vida eterna.

Viver a Palavra
Vou olhar com mais atenção para o valor das coisas imateriais que me rodeiam e treinar-me no louvor!

Fonte: Pastoral Litúrgica



Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares
Comunidade Santa Teresa de Jesus (Curitiba-PR)
Província Nossa Senhora do Carmo

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