A PALAVRA DO EVANGELHO
Evangelho Lc
12, 49-53
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu vim trazer o
fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda? Tenho de receber um batismo e estou ansioso até que ele se realize. Pensais que Eu vim estabelecer
a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão. A partir de agora,
estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra três. Estarão
divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a
filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra».
Caros amigos e amigas, este
pequeno texto do Evangelho de Lucas questiona a nossa paz e a nossa guerra, e
faz-nos entender qual a origem da força e da mansidão deste Deus que é ao mesmo
tempo um audaz “guerreiro” e um “humilde cordeiro”.
Eu vim trazer o fogo à terra
Numa certa passagem da vida de Jesus que o Evangelho guarda, os discípulos ripostam dizendo “esta palavra é dura! Quem pode escutá-la?” (Jo 6, 60). Algo semelhante pode acontecer conosco diante desta perícope evangélica. A voz é de Jesus, mas as palavras parecem não ser. É preciso perscrutar a sua dureza. É preciso poder escuta-lo repetidamente. E, antes de mais, esta é uma das vantagens deste texto. Esta passagem, a partir da sua dureza, ajuda-nos a entender que o texto bíblico é Palavra de Deus viva e, como tal, requer atenção e cuidado. “Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda?” Numa época em que os incêndios ainda vão ceifando vidas e deflagrando dor, que fogo é este que Jesus quer atear? Na cultura em que Jesus se inscreve, o fogo surge como elemento de purificação e de santificação. Como a água baptismal. Por isso, este fogo é gérmen de vida nova. Da vida verdadeira, bela e boa que Jesus traz. Não pensemos que a expressão de Jesus “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10) entra em litígio com esta de hoje. Muito pelo contrário. São frases sinônimas. Jesus não se contradiz. Ele tem a memória de Deus: é fiel a Si mesmo. Agora, a vida nova de Jesus implica que arda em nós o fogo do amor de Deus, o Espírito Santo. É Ele que nos purifica do que impede a vida em nós. É Ele que fecunda a vida pela santidade.
Tenho de receber um batismo e
estou ansioso
O
lugar desta frase no Evangelho de hoje leva a concluir que o fogo que Jesus quer
acender, se acenderá na cruz. O batismo que Jesus recebe é esse. É lá, na
cruz, que Jesus instaura a sua cátedra e ensina o seu Evangelho, a sua Boa Nova
do amor. Não a ensina como os escribas, mas com a autoridade do sangue; não
ensina com palavras, mas com o silêncio da morte inocente. É lá que revela o
amor de Deus, para que seja na cruz que nós testemunhemos esse mesmo amor
recebido. Mas como testemunhá-lo, senão capacitados pelo Espírito Santo? É, por
isso, que também lá, na cruz, Jesus entrega o seu Espírito ao Pai e, com o Pai,
aos seus discípulos, como primícias da nova humanidade.
O
Espírito Santo que Jesus derrama, com o seu Sangue, sobre a humanidade,
congrega, é fonte de comunhão, é garantia de unidade, é o Dom da Paz. Assim
sendo, como Jesus pode dizer “vim trazer a divisão”?
Impressionantemente, há quem faça guerra à Verdade, à Vida, à Liberdade, à Justiça e à Caridade. No fundo é a guerra que se faz aos inocentes e inofensivos, aos pobres que Jesus prefere. E é a esta luz que se entende a divisão que Jesus traz. Se não fosse essa guerra, Ele não teria sido entregue à morte. Se não fosse essa divisão, os seus discípulos não seriam perseguidos e não teriam recebido o batismo que Ele ansiou. Muitas vezes vemos divisão familiar por causa de pequenos interesses. Não é dessa divisão que se trata. É aquela outra, que pelo simples facto de existir, é um grito pela Verdade. Como é possível aceitar Auschwitz, Hiroshima ou Nagasaki? Como é possível estar unidos à exploração e ao tráfico humano? Por isso, Jesus não nos oferece a paz cúmplice do mal. Traz-nos, sim, a paz que luta pela Verdade, pela Beleza e pelo Bem, e a Vida que ela promete e concretiza.
E isto, caros amigos e amigas, é Evangelho.
Rezar a palavra
Vou
questionar-me sobre como posso ser rastilho para o incêndio da mensagem de
Jesus.
Viver a palavra
Senhor,
quero aceitar o incêndio do teu mistério, fogo posto à frágil prova do meu amor.
Ofereço-Te a minha debilidade e tibieza para que as potencies com a força da tua entrega.
Ofereço-Te a minha maldade e incoerência: corrige-as com a beleza da tua verdade.
Ofereço-Te a minha debilidade e tibieza para que as potencies com a força da tua entrega.
Ofereço-Te a minha maldade e incoerência: corrige-as com a beleza da tua verdade.
Ofereço-Te a minha vontade e o meu querer: encaminha-os para a tua
plenitude!
Sê Tu em mim, Senhor, a medida de cada passo, de cada silêncio e
de cada palavra.
Fonte: Pastoral Litúrgica
Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares
Comunidade Santa Teresa de Jesus (Curitiba-PR)
Província Nossa Senhora do Carmo
FaceBook: OCDS
Província Nossa Senhora do Carmo
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