sábado, 13 de julho de 2019

Momento com Deus - Lectio Divina - 13/07/19


DOMINGO XV DO TEMPO COMUM

Jul 13, 2019 | Ano C

 



MISTAGOGIA DA PALAVRA


O Senhor fala-nos “de muitas e variadas formas”. A voz de Deus manifesta-se nos mais insignificantes acontecimentos. Todas as coisas são imagens de Deus, se bem que imperfeitas. Em todas elas sé Cristo que opera e nelas se comunica. Interroguemo-nos, pois, sobre a atenção que nos tem merecido essa voz de Deus e, muito particularmente, a Palavra ouvida e lida na Sagrada Liturgia.

A 1ª leitura é do Livro do Deuteronômio. Quando rezamos, temos a impressão de que o Senhor não nos ouve, ou pelo menos não nos fala. Procuramos Deus longe do homem, quando Ele está não apenas na Palavra que agora ouvimos, mas também as pessoas que encontramos e nos acontecimentos do dia-a-dia. Quantas vezes nos escusamos ao cumprimento dos mandamentos, alegando que isso está acima das nossas forças, ou que não sabemos o que o Senhor nos pede. Esta leitura indica-nos o caminho a seguir.

A 2ª leitura é de S. Paulo aos Colossenses. O homem, quando domina as forças do universo, tem por vocação colaborar na obra criadora de Deus, completando-a. O universo há-de ser espelho de Deus. Mas só Cristo é a imagem perfeita do Pai. Deste modo as coisas do universo – realidades terrestres – e o próprio homem encontram n’Ele o único meio de reconciliação.

A 3ª leitura, o Evangelho, é segundo S. Lucas. Um homem, conhecedor das Sagradas Escrituras, aproxima-se de Jesus e pergunta-Lhe quem, é o seu próximo. Todos conhecemos a respostas de Jesus dada num a parábola. Por ela Jesus diz-lhe: “o teu próximo são todos os homens, sem distinção de classe, raça ou posição social”. “Aquele que precisa da tua amizade, da tua palavra, do teu conforto, esse é o teu próximo”. A resposta dada ao doutor da lei é para todos nós, discípulos de Cristo. “Vai e faz o mesmo, tu também”.

A PALAVRA DO EVANGELHO

Diante da Palavra
Vem, Espírito Santo, provê os nossos corações com a unção da caridade!

Evangelho    Lc 10, 25-37
Naquele tempo, levantou-se um doutor da lei e perguntou a Jesus para O experimentar: «Mestre, que ei de fazer para receber como herança a vida eterna?». Jesus disse-lhe: «Que está escrito na Lei? Como lês tu? ». Ele respondeu: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo». Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem. Faz isso e viverás». Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: «E quem é o meu próximo? ». Jesus, tomando a palavra, disse: «Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o meio-morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores? ». O doutor da lei respondeu: «O que teve compaixão dele». Disse-lhe Jesus: Então vai e faz o mesmo».
Caros amigos e amigas: o Evangelho de hoje rompe as nossas pressas e questiona os nossos preconceitos. Estamos sempre a caminho do encontro, quando nos deixamos encontrar e curar primeiro.

Interpelações da Palavra
Mestre, que hei de fazer para receber a vida eterna? Aproxima-se de Jesus um doutor da lei e inicia um diálogo com Ele. À partida, a intenção não é das melhores, pois o objetivo é experimentá-Lo. De todas as maneiras, mesmo que os motivos sejam travessos, a conversa com Jesus ilumina, aquece, alarga horizontes. Jesus coloca aquele homem a dar as respostas às perguntas que formula. Isto faz-nos concluir que o problema não está na ignorância, mas na inércia. O doutor da lei sabe o que se deve fazer, a lei já lhe tinha ensinado, mas algo o bloqueia, e esse bloqueio pode ser a pergunta: «quem é o meu próximo? ». Ambas as perguntas que o doutor da lei dirige a Jesus se resolvem com a decisão de agir. A pergunta sobre o que havemos de fazer resolve-se com a decisão de começar por fazer qualquer coisa, por deitar mãos-à-obra, por tomar iniciativa. A questão sobre quem é o nosso próximo desaparece no momento em que nós fazemos próximos. Daí que Jesus, seguindo o seu belo costume, conte uma história fácil de memorizar e indispensável não esquecer: a parábola do Bom Samaritano.
Ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Esta expressão que é o coração da parábola, é também o coração do Evangelho. Diz-nos o modo de agir de Deus e o modo com o qual cada um de nós se deve colocar na vida. Diante daquele homem anónimo, roubado, espancado e abandonado, descrevem-se duas formas de estar na vida: uma, a daqueles que veem e passam adiante; outra, a daqueles que veem e se compadecem, se comovem, são capazes de sentir com os outros. Ver sem compaixão é a verdadeira cegueira. Ver com compaixão é deixar-se «ferir pelas feridas daquele homem» (Ermes Ronchi). Porém, deixar-se ferir é pouco. Há que curar as feridas próprias cuidando das feridas alheias. Foi o que fez o samaritano: aproximou-se, ungiu e ligou as feridas, levou o moribundo para uma estalagem, cuidou dele e deixou ao estalajadeiro a seguinte recomendação: «Trata bem dele; e o que gastares a mais eu te pagarei quando voltar». É um homem que vê com o coração. 

Vai e faz o mesmo. Eis a recomendação de Jesus a todos os que querem ter a vida em plenitude. Isto vale sobremaneira para os que desejam ser seus discípulos. Disponíveis e livres, sem bolsa sem alforjes e sem sandálias, podem aproximar-se e deter-se, podem dar espaço a cada ser humano. Um discípulo de Jesus consegue ultrapassar as escusas que paralisam, evitar as pressas que distanciam e renunciar a adiar o essencial. Se assim não faz, viver o Evangelho torna-se uma constante miragem. O nosso limite, como discípulos, não é ignorar o Evangelho, pois todos nós o conhecemos, o relemos e o rezamos. Não está longe nem é inacessível à nossa inteligência. Porém, há que fazê-lo visível nas nossas mãos e nos nossos pés, nos nossos gestos e nas nossas ações. Isso acontece na medida em que que nos decidimos a imitar Jesus, o Bom Samaritano que derrama sobre a humanidade o «óleo da consolação e o vinho da esperança».

Rezar a Palavra
Senhor, ajuda-me a despertar a atenção, 
mais que o cumprimento de planos pré-estabelecidos, ajuda-me a conjugar os verbos do cuidado e do abraço no presente, mais que os imperativos nascidos do passado, ajuda-me a descobrir as minhas próprias feridas
quando arrisco beijar as dos irmãos.
  
Viver a Palavra
Durante esta semana vou estar atento às beiras dos caminhos e arriscar beijar as feridas do meu próximo.




Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares
Comunidade Santa Teresa de Jesus (Curitiba-PR)
Província Nossa Senhora do Carmo

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