sábado, 14 de março de 2020

São José fundador e pai do Carmelo Descalço (Parte V)


III. SÃO JOSÉ NO CARMELO ANTES DE SANTA TERESA

São José entra no Carmelo desde as origens da Ordem. Não por acaso o Carmelo é flor plantada, nascida e desenvolvida na Palestina, a terra de José. O Carmelo nasce embalado por Maria e José. Desde suas origens derrama fortes aromas josefinos juntamente aos marianos. E se não é verdade o que foi escrito, que "quando os Carmelitas, fugindo da perseguição no oriente, refugiaram-se no ocidente, trouxeram consigo a festa de São José” (Leão de São Joaquim), é inegável que a devoção a São José, a nível privado e local, vivia-se desde a vinda dos carmelitas para a Europa, embora a festa do Santo Patriarca, a nível de Ordem, apareça apenas na segunda metade do século XV, com a particularidade de que os carmelitas foram os primeiros que na Igreja latina compuseram um ofício inteiramente próprio em honra de São José, que aparece no breviário impresso em Bruxelas em 1580 e nos seguintes; e é certamente o que lia a Santa Madre na festa de São José. Significa que os carmelitas desde que começaram a honrar São José, o fizeram com tanto ardor e fé que não se encontra precedente igual na história josefina. "Este ofício não é somente o mais antigo monumento elevado na Igreja latina para a glória de São José, mas certamente o cântico mais belo que jamais lhe consagraram. Todas as partes, desde a primeira antífona até a última, representam o Santo em todo o esplendor de sua glória" (Leão).

O que se cantava e celebrava nesta festividade de São José em 19 de março? A virgindade de José, a quem Deus confia a virgindade da Mãe de seu Filho, e com a qual o desposa, para ocultar do diabo o mistério da encarnação, e para que fosse testemunha e guardião da virgindade de Maria, defendendo-a de qualquer suspeita de infâmia.

O matrimônio realizado por Deus é virginal, ligado não por união carnal, mas por um amor virtuoso; um matrimônio animado pela fé e pela prole bendita da qual José é pai putativo, pai virginal e, como Maria, sem pecado. Maria e José vivem realmente com solicitude conjugal e serviço mútuo, e com a mesma dedicação ao filho.

São José é aquele que recebe o mistério da Encarnação, aquele a quem o Anjo, enviado por Deus, dá a conhecer o mistério da salvação humana, e que detém as posses da vida (de Jesus e Maria).

Essa teologia é a que lia e meditava Santa Teresa na festa de São José, enquanto vivia no mosteiro da Encarnação, onde consta a devoção a São José estar bastante radicada, e que, resumida e feita experiência particular, seria espalhada em seu Livro da Vida.


IV. RELAÇÕES DE SANTA TERESA COM SÃO JOSÉ

Poucas pessoas na história humana foi tão dotada para se relacionar com os demais como Santa Teresa. Foi feita para a amizade aberta e generosa, para uma vida de relações sociais e espirituais amplas e variadas. De fato, no âmbito exclusivamente carmelitano, desde o Geral para baixo, relacionou-se com diversos frades e monjas.

O mesmo se passa com os santos do céu. Não é pessoa de um só santo ou de poucos. Pelo contrário, são muitos dos quais se confessa devota. A lista dos santos de sua devoção particular, encabeçada por São José, encontrada em seu breviário, registra um colosso de 34 (e não é completa); entre eles estão os Patriarcas, as onze mil virgens, os Santos da Ordem, os Anjos.

Muitos santos, mas um em especial, não somente por ser o primeiro da lista, mas em razão de suas vivências espirituais especiais com ele: São José.

a) Devoção e experiência josefina

O que Santa Teresa nos ensina sobre São José na história da salvação de sua alma é a expressão de uma devoção profunda e sincera ao Santo Patriarca, vivenciada, profundamente experienciada, intimíssima e prolongada por vários anos. Não fala do que aprendeu nos livros, pois algum devia ler sobre São José, nem do que ouviu nos sermões que ouvia, ao menos cada ano quando procurava fazer sua festa com toda a solenidade que podia (V 6,7), e em outras ocasiões. Ela fala da experiência pessoal de São José intervindo em sua vida e em sua alma; não diz nada que não saiba por experiência; e por isso se converte numa apóstola única da devoção ao Santo.

A devoção da Santa a São José, vivenciada, aparece claramente desde sua entrada na Encarnação. E se forja já desde criança. "Com o cuidado que minha mãe tinha de rezarmos e ser devotos de Nossa Senhora e de alguns santos" (V 1,1). E para a Santa, não se pode pensar na Virgem sem ver a seu lado São José. É certo que desde sua entrada na Encarnação esta devoção aparece vigorosa, viva e proselitista. Uma devoção concreta, que é síntese de afeto, entrega, veneração, confiança, amor, que a leva a se recomendar muitas vezes a ele. E o resultado desta atitude múltipla, vivida no dia-a-dia e com mais intensidade nos momentos de necessidade espiritual ou corporal, é reconhecer ter eleito um santo cheio de bondade e de poder: experimenta que se relaciona com um pai e senhor. Vê claramente, a partir da sua experiência, como da de outras pessoas às quais se recomendava, o benéfico e universal auxílio com que São José correspondia, dando muitas mais coisas do que ela pedia. Não se trata de uma experiência sobrenatural e mística, mas de uma convicção plena a partir da fé sincera e amor confiante de que o que recebe nas necessidades de alma e corpo são graças dispensadas por São José, em atenção à total confiança com que as pede e o abandono esperançoso com que a ele se recomenda. Daqui nasce o típico agradecimento da Santa: faz proselitismo e conquista muitos devotos para São José - “Há muitos que são devotos de novo... eu dizia que se recomendassem a ele...”, celebra sua festa com toda solenidade.

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