domingo, 15 de março de 2020

São José fundador e pai do Carmelo Descalço (Parte VI)


b) Experiência sobrenatural e mística

A longa experiência da devoção a São José com o tempo amadurece e se transforma em uma experiência sobrenatural, sem perder seu caráter habitual de experiência à nível de graça ordinária, porém mais forte. Isso acontece quando a Santa começa a ter uma maneira nova de experimentar as realidades sobrenaturais. Também a devoção a São José fica tocada suave e fortemente por esses ventos místicos que adentram sua alma. Nessa linha desenvolve-se poderosamente a devoção da Santa a São José, e as experiências concretas dessa devoção mística vai aparecendo em momentos específicos e especiais de sua vida.

A devoção a São José no Carmelo teresiano vai essencialmente unida a Santa Teresa. É um dos legados mais ricos e característicos que a Santa deixou a seus filhos. E o faz pela força dessa experiência e como fruto maduro da mesma. Uma herança valiosíssima. Ao experienciar São José como Fundador da Reforma, na sua obra de fundadora, o associa essencialmente à mesma. Não se compreende o Carmelo teresiano sem São José, sem a experiência josefina da Santa. As palavras do Pe. Gracián, o grande confidente de Madre Teresa por tanto tempo, e seu superior por muitos anos, são claras: "... e por essa causa, conforme escreve o doutor Ribera, pôs sobre a portaria de todos os mosteiros que fundou Nossa Senhora e o glorioso São José; e em todas as fundações levava consigo uma estátua deste glorioso santo, que agora está em Ávila, chamando-o fundador desta Ordem. Os que professam esta regra dos carmelitas descalços reconhecem como fundador desta reforma o glorioso São José, com cuja devoção a fundou Madre Teresa, assim como toda a Ordem do Carmelo reconhece por fundadora a sacratíssima Virgem Maria".

De fato, a fundação do primeiro mosteiro realmente não se explica sem a presença e a ajuda de São José. O primeiro convento do Carmelo Teresiano se funda em um ambiente banhado pelo sobrenatural, tal como o entende a Santa, no qual tem um papel de primeira relevância o glorioso São José. Como disse o Pe. Gracián, estendendo essa importância capital do santo para todos os outros conventos: "da mesma forma que o glorioso São José fez milagre na construção deste mosteiro (Ávila), poderia contar de muitos outros, tanto de frades como de monjas, que parece impossível tê-los erguidos, se este glorioso santo não tivesse posto as mãos nestas empresas".

Assim um dia, após ter comungado, ouve grandes promessas “de que não deixaria de se fazer o mosteiro, que seria muito servido nele e que se chamasse São José, e que ele nos guardaria de uma porta e Nossa Senhora da outra, e que Cristo andaria conosco” (V 32,2). Metida já na edificação do mosteiro, encontra-se cercada por todos os lados, sem dinheiro ou de onde o tirar, nem para a Breve, nem para nada. Nesta situação sem saída vem sobrenaturalmente em seu socorro São José, a quem ela muito se recomendava: "E o Senhor me proveu de tudo, por modos que espantavam os que o souberam" (V 33,12). Chegaram pelas mãos de seu pai e senhor São José, através de seu irmão Lorenzo, mais de duzentos ducados.

Por aqueles mesmos dias, estando na Igreja dos dominicanos, recebe a graça mística da vestição de uma roupa de muita brancura e claridade. Vestem-na Nossa Senhora, de grandíssima formosura, que vê a seu lado direito, e seu pai São José, ao lado esquerdo, dando a entender já estar limpa de seus pecados.

Neste ambiente cercado pelo sobrenatural foi erigido oficialmente o mosteiro do senhor São José no dia 24 de agosto de 1562. A Santa Madre sente um grande contentamento por ter feito o que o Senhor tinha mandado e por que fez outra igreja mais neste lugar, dedicada a seu pai, o glorioso São José, que antes não havia (V 36,6). A externalização desta forte experiência na fundação do primeiro mosteiro está na escultura de São José, vestida com um chapéu e à mão a vara florida, sobre a porta da igreja, e uma tela do Santo no altar maior.

A experiência sobrenatural de São José na fundação do primeiro mosteiro é um ponto culminante na carreira dessas experiências com seu pai e senhor São José, que inicia com a cura milagrosa de sua gravíssima doença, e que marca um momento fundamental e decisivo em suas relações com o Santo Patriarca, na qual o experiencia - “vê claramente” - como pai e senhor que tudo pode em todas as necessidades. A experiência josefina não diminui ao longo de toda a sua vida. Sua existência se desenvolve sob o signo de São José. Isabel da Cruz, em seu depoimento para a beatificação da Santa no Processo de Salamanca, a expressa nestes termos: "Era particularmente devota de São José e ouvi dizer que ele apareceu muitas vezes e andava a seu lado". Há muitas referências e momentos em sua vida em que sente esta experiência de São José, além das já mencionadas. Basta citar outras três.

Um dia enquanto comungava, viu que o bendito São José, de um lado, e Lorenzo de Cepeda, seu irmão, de outro, iluminavam o Santíssimo Sacramento. Assim conta seu sobrinho Francisco, filho de Lorenzo. Petronila Batista fala de um arroubamento muito grande que teve no dia do bem-aventurado São José, enquanto a Santa ouvia a missa na grade do coro de São José de Ávila.

Não se pode ignorar, por ser conhecido, o episódio da aparição de São José quando iam a caminho de Beas de Segura, para uma nova fundação naquela cidade, conforme narra Ana de Jesus (Lobera), testemunha do fato como uma das oito religiosas que acompanhavam a Madre naquela fundação.

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