sexta-feira, 4 de outubro de 2019

05/10/19 - MOMENTO COM DEUS - LECTIO DIVINA

SÁBADO, 05 DE OUTUBRO DE 2019

Lucas 10,17-24 (Qual é o motivo de alegria para os discípulos; O Evangelho revelado aos simples. O Pai e o Filho; O privilégio dos discípulos). O evangelho que a liturgia de hoje nos apresenta, nos manifesta o significado da missão dos “setenta e dois discípulos”. Voltam estes “cheios de alegria” (v.17) e Jesus Cristo lhes descobre o conteúdo profundo do que hão realizado. O tema está desenvolvido em duas seções ligeiramente diferentes, ainda que unitárias (vv.17-20 e vv. 21-24). Estas incluem em primeiro lugar, a missão, considerada como uma vitória que conseguem os setenta e dois na luta contra Satanás (v.18); em segundo lugar, a vitória sobre Satanás, que manifesta que os discípulos são capazes de vencer o mal que há no mundo; por isso se lhes considera no evangelho “felizes” (v.23) e seus nomes estão escritos no Reino dos céus (cf. v.20); e em terceiro lugar, e prosseguindo, o evangelho nos faz observar que os “simples” (v.21) estão abertos ao mistério e recebem a verdade de Jesus; por ultimo, Jesus louva ao Pai pelo dom concedido aos “simples” e revela a união de amor entre ele e o Pai: “Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece quem é o Filho, senão o Pai…” (v.22). Pode afirmar-se que a missão é concebida no evangelho como irradiação do amor que une o Pai e o Filho. Este amor revelado aos simples é a força que destrói o mal. Os discípulos são considerados “felizes” porque vêem e saboreiam já, desde agora, o amor do Pai e do Filho.

Jó 42,1-3.5-6.12-16 (Ultima resposta de Jó) Os últimos versículos do livro de Jó constituem um ato de confiança e de abandono em Deus. Já ante o espetáculo da criação e de suas maravilhas, Jó havia feito uma primeira confissão a Deus: “Falei apressadamente, que posso responder-te? Não direi uma palavra mais. Falei uma vez, porém não voltarei a fazê-lo; duas vezes, porém não insistirei” (40,3-5). Agora, nesta segunda confissão, Jó não só reconhece a desordem de sua mente, mas que confessa a sabedoria e a onipotência de Deus. Retira todas as acusações que havia movido antes contra Deus: “Sei que tudo podes, que nenhum plano está fora de teu alcance” (42,2). Jó fez um longo caminho. Adentrou em situações de real desespero, através da noite dos sentidos e do espírito, em uma experiência que figura entre as mais terríveis da vida. Tem compreendido que Deus se esconde para fazer-se buscar e para que possamos encontrar-lhe: este ingresso sublinha seu caminho místico, o grande dinamismo de sua vida espiritual. Em consequência, pode afirmar Jó: “Te conhecia só de ouvir, porém agora meus olhos hão te visto” (42,5) Agora te conheço, entrei no profundo de teu mistério. O conhecimento de Deus que agora tem amadurecido em Jó já não é “de ouvir”, mas um conhecimento de quem tem se aproximado a Ele e buscado assemelhar-se ao Filho de Deus, que deu sua vida pelo homem. Agora compreendemos bem que o problema de Jó é, sobretudo, um grande problema de amor. O amor de quem, ainda sentindo-se rejeitado, não desiste, apesar de tudo, de continuar buscando e gritando a Deus por sua própria fidelidade. Satanás havia apostado com Deus que não havia nenhum amor gratuito. Jó tem conseguido provar que, quando o amor do homem é atraído pelo de Deus, é capaz de alcançar uma entrega total.

Sl 118/119 (Elogio da lei divina). Esta é uma oração sem fim. Provavelmente é obra não só de uma pessoa, mas de várias, que elogiam por meio de muitos artifícios literários a Palavra de Deus, a lei do Senhor, como fundamento de todo o agir humano. É um Salmo belíssimo que deve ser “saboreado” lentamente, um versículo por dia. Assim, teremos por mais de meio ano assegurado nossa meditação. Deus se comunica conosco não para nos oprimir ou dominar, mas para ensinar os caminhos da felicidade. Felizes os que vivem a Palavra de Deus e a ensina. Medite dia a dia este Salmo e sua vida, sem dúvida, será diferente, sendo fortalecida não por palavras humanas, mas pela Palavra de Deus.
Senhor, não quero fugir de tua Palavra nem desprezá-la. Quero amá-la como Lâmpada para os meus pés e luz no o meu caminho. “Lâmpada para meus passos é tua palavra e luz no meu caminho. Jurei, e o confirmo guardar tuas justas normas. Meu sofrimento passa dos limites, Senhor, dá-me vida segundo tua palavra. Senhor, aceita as ofertas dos meus lábios, ensina-me tuas normas. Minha vida está sempre em perigo, mas não esqueço a tua lei. Os ímpios me armaram laços, mas não me desviei de teus preceitos. Minha herança para sempre são teus testemunhos, são esses a alegria do meu coração. Inclinei meu coração a cumprir teus estatutos, desde agora e para sempre” (Sl 119, 105-112).

MEDITATIO: Chegamos ao final do livro de Jó. Ao princípio havíamos refletido sobre a aposta lançada por Satanás sobre o homem. Segundo a opinião de Satanás, o homem é incapaz de um amor gratuito. Sem dúvida, temos concluído que, ainda que não saibamos se temos ou não o amor gratuito por Deus, uma coisa é segura: Deus nos ama e dilatará nosso coração provando-o com o fogo incandescente de seu amor. Além do mais, Deus espera de nós que nos entreguemos a Ele com total confiança e perseverança, como Jó, pondo-nos por completo a sua disposição. Se, de verdade, amamos a Deus, o nosso coração encontrará em si mesmo a sua riqueza. Este amor incrível e atraente é o que nos comprometerá e nos levará a saborear o dom inaudito do amor trinitário. No Cântico dos Cânticos se lê que aquele a quem buscamos sem cansar-nos existe e nos ama. Um dia o encontraremos, se temos perseverado nesta busca contemplativa, e nos cumulará de alegria. Porém, o devemos buscar já desde agora sem desanimar-nos. No fundo, também Jó pode dizer ao final: “Agora meus olhos hão te visto” (42,5). Só quem ama, disse Von Balthasar, pode falar do amor. Não é possível falar, nem sequer dos menores problemas do mundo espiritual sem ter tido uma experiência direta. Do mesmo modo, tampouco, um cristão pode fazer apostolado, anunciando, como fez Pedro, o que viu e tem ouvido (cf. 2 Pe 1,16-19). Tudo o que podemos testemunhar sobre o nosso Deus procede da contemplação: a de Jesus, a da Igreja e a nossa. Graças a este amor, que lhe há posto em uma autêntica relação com Deus, Jó obtém sua benção, muito maior que a primeira. Durante estes dias temos meditado sobre o mistério da prova e do amor. Diante de Maria Santíssima peçamos o poder para penetrar, com maior profundidade, neste mistério.

ORATIO: Oh Deus, tu és nosso Senhor, és tu quem se antecipou a nós e nos amou quando ainda nem sequer te conhecíamos e não podíamos pagar teu amor com o nosso. És tu quem nos segue amando-nos e preparaste para nós bens invisíveis dos quais não temos nenhuma visão intuitiva. Também nós te amamos e nos movemos para ti, precisamente na direção que tu nos tens prefixado. Porém estamos submergidos em um montão de coisas e de obstáculos que nos impedem buscar-te; impulsionam-nos distante de ti; impedem-nos gozar de tua intimidade. Concede-nos, ó Pai, a graça de compreender o grito lacerante de nosso coração. Ajuda-nos a entender melhor o sentido das provas que nos pressionam por todas as partes; da noite de nossos sentidos, da noite do espírito e da noite profunda da fé, onde nos agitamos em um estado de quase desespero. Infunde em nosso coração o afeto de teu amor. Infunde-o profundamente. Converte-te tu mesmo para nós em uma corrente que flua, para que nosso correr nos conduza a ti. Tu, ó Deus, nos fizeste compreender que nos é necessário entrar nos sofrimentos e nas provas de Jesus Cristo. Ajuda-nos agora, ó Pai, a meditar sua paixão, a fim de participar em seus sofrimentos e conhecer, assim, a força da ressurreição.

CONTEMPLATIO: O amante não entra no reino do amor com a alegria de ter encontrado por fim a culminação de todos seus próprios desejos, mas em silêncio e com humildade, porque o amor há sobrepassado todas suas expectativas e a ele mesmo. Tem que suportar o insuportável: a presença do amor. Seria pouco dar a esta impossibilidade de suportar o nome de bem-aventurança, de êxtase de amor. Em efeito, o amor é demasiado grande, e neste “demasiado” se inclui uma espécie de dor, que só conhece quem ama, porém que é a flecha, a espinha de toda felicidade espiritual. Seria assim mesmo pouco descrever esta dor como o limite da própria resposta, como desilusão respeito à própria realidade, que inclusive no momento da máxima entrega não oferece nada verdadeiramente digno do amor. Em efeito, o amor demasiado grande não transborda só em relação com o eu, à pessoa à qual beneficia; nem sequer um eu maior, mais digno, conseguiria conter este transbordamento; tal prerrogativa, em efeito, está ínsita no amor mesmo, que, confrontado consigo mesmo, resulta demasiado grande, e todo o que se veja ferido por sua maravilha e arrastado por suas ondas deveria cair em adoração frente a seu extremo poder e a sua vitoria radiante. (H.U, Von Balthasar, Sorelle nello spirito. Teresa di Lisieux e Elisabetta di Digione, Milán).


AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
“De modo que não haveis podido velar comigo nem sequer uma hora?” (Mt 26,40)

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PARA A LEITURA ESPIRITUAL Eis aqui uma das páginas mais belas que escreveu Santo Tomás Moro no cárcere antes de ser executado: “Cristo sabia que muitos, por sua própria debilidade física, haveriam de se deixar atemorizar só pela ideia do suplício… e quis confortar seu animo com o exemplo de sua dor, de sua tristeza, de sua angustia, de seu medo. E a quem estiveram constituídos fisicamente deste modo, ou seja, aos débeis e aos medrosos, lhes quis dizer quase falando-lhes diretamente: Tem coragem, tu que és tão débil; ainda que te sintas cansado, triste, temeroso e importunado pelo terror de cruéis tormentos, tem coragem: porque também eu, ante o pensamento da acérrima e dolorosa paixão que se fazia próxima me senti ainda mais cansado, triste, temeroso e submetido a uma intima angústia… Pensa que te bastará caminhar atrás de mim… Confia-te a mim, se não podes ter confiança em ti mesmo. Olha: eu caminho diante de ti por esta via que te da tanto medo; agarra-te a borda de minha túnica e dela obterás a força que impedirá que teu sangue se disperse em vãos temores e manterá firme teu ânimo com o pensamento de estar caminhando detrás de minhas pegadas. Fiel a minhas promessas, não permitirei que sejas tentado acima de tuas forças” (A. Si).


Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares
Comunidade Santa Teresa de Jesus (Curitiba-PR)
Província Nossa Senhora do Carmo


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